Por Anderson Nascimento
Embalado na boa fase que estava vivendo nos últimos anos, dado o sucesso de sua banda Traveling Wilburys (Dylan, Tom Petty, George Harrison, Roy Orbinson e Jeff Lynne) e do seu último disco "Oh Mercy", do ano anterior, Bob Dylan engatou "Under The Red Sky", um bom álbum com pegada roqueira e recheado de boas canções.
Nesse álbum é perceptível a influência dos anos de Wilburys (e até a participação levando em consideração a presença do ex-Beatle George Harrison no álbum) principalmente em canções como "Unbelievable", um rokão que deixa o ouvinte babando, e ainda por cima, consegue resgatar o Dylan político de letras ácidas e provocativas.
Falando em participação, um time do primeiro escalão da música participa do álbum. Don Was (que inclusive é o produtor do álbum), David Crosby, Stevie Ray Vaughan, Elton John, Paulinho da Costa, Slash e o já citado Harrison ajudam a dar forma ao álbum.
O que mais encanta nesse disco é o seu ritmo acelerado, e faixas rápidas - em média três minutos e meio - que distribuem a obra em apenas dez canções, em sua maioria roqueiras. Se isso por um lado encanta, por outro levou parte da imprensa a acusar Dylan e seu até então novo álbum de preguiçoso e simples (fácil) demais. De certa forma, mesmo permeadas por uma pegada roqueira, canções como "TV Talkin' Song" e "10.000 Men" não chegam a empolgar. Curiosamente é nesse momento que o disco perde um pouco o fôlego, retomando somente em "God Knows".
E é nesse ponto que temos o gênio de volta, a rústica "God Knows", que chega a invocar os cânticos gospels dos anos trinta, antes da entrada de uma guitarra solo e bateria - ah! Dylan por quê? - mas ainda assim a canção consegue se destacar dentro do álbum, inclusive remontando, sem o soul, a fase gospel do fim dos anos setenta.
Mesmo roqueiro, "Under The Red Sky" apresenta um momento mais calmo. É o caso de "Born in Time", uma balada que vai crescendo ao longo de sua interpretação e rende um dos grandes momentos do disco. "Handy Dandy" é outra canção instrumentalmente rica, assim como a faixa de abertura "Wiggle Wiggle" e a de encerramento "Cat´s In The Well".
"Under The Red Sky" deve ser encarado como um disco divertido, feito com pouco apreço por Dylan, mas com muita vontade de mostrar uma música livre das amarras que obrigam o artista a ser sempre gênio e poeta.