Por Valdir Junior
Como previsto e noticiado quando do lançamento de “Shadows In The Night” em 2015, Bob Dylan lança agora “Fallen Angels”, mais um álbum onde ele extravasa a sua faceta de crooner, revisitando músicas populares americanas dos anos 40 e 50, em sua maioria gravadas por Frank Sinatra no mesmo período. O álbum, como o anterior, foi gravado nos estúdios da Capitol Records e os músicos foram os mesmo que acompanham Dylan na sua Never Ending Tour, a produção foi a do próprio Dylan, usando o seu pseudônimo, Jack Frost.
Até aqui, você pode dizer, não há nada de novo deste álbum para o anterior, é apenas o “Velho Dylan”, sendo nostálgico e querendo faturar mais alguns trocados com um álbum de standarts da música americana, adianto que isso é um grande engano. Dylan com “Fallen Angels” se supera em um álbum com muito mais qualidade do que o anterior, usando de sua experiência e vivência para acertar em cheio e entregar um dos melhores discos de sua carreira.
Em “Fallen Angels”, Dylan escolhe um repertório que ele, mais do que nunca, toma para si e entrega interpretações cheias de uma verdade que nos envolve e nos conduzem numa jornada pelas fatos simples e importantes da vida, presente nas letras das canções, ora nos confortando, ora nos cutucando, mas sempre nos deixando cientes que estamos vivos e já passamos e ainda vamos passar por bons e maus momentos na vida.
Os arranjos e todo o processo de gravação e produção se destacam com um bom gosto e qualidade técnica impressionante. Os músicos são uma unidade coesa em todas as canções, eles são capazes de transitar com desembaraço por momentos de extrema precisão e outros em que se deixam levar em breves jams. O som do álbum como um todo é de uma pureza incrível, conseguimos ouvir com exatidão todos os instrumentos e voz de Dylan, como se estivéssemos ali, ao lado deles.
“Fallen Angels” é um bálsamo para os ouvidos e para a alma, muito disso se deve, pasmem, ao vocal de Dylan. Conhecido por sua voz anasalada e estridente, Dylan sempre esteve longe de ser considerado um cantor, no sentido propriamente dito da palavra, mas o seu vocal em todas as doze faixas de “Fallen Angels” pode ser considerado o melhor de toda a sua carreira, aqui Dylan canta numa voz doce, suave e serena, num estilo bem cool jazz. Destaco as faixas: “All the Way”, “It Had to Be You”, “That Old Black Magic”, “Melancholy Mood”, “Maybe You’ll Be There” e “Come Rain or Come Shine”, como exemplos da qualidade vocal de Dylan no álbum.
Ao escutar “Fallen Angels”, dois sentimentos nos tomam, o primeiro é um misto de gratidão e felicidade por termos passados os últimos trinta e sete minutos, ouvindo algo bom e que nos faz bem, o outro é a curiosidade em saber o que Dylan nos reserva para o futuro, pergunta essa que já tínhamos quando do lançamento de “Shadows In The Night” e fazíamos um link direto ao momento semelhante na carreira de Dylan, onde ele, após gravar dois excelentes álbuns de covers, “Good as I Been to You” de 1992 e “World Gone Wrong”de 1993, deu início há uma nova fase de sua carreira com o lançamento do excepcional “Time Out Of Mind” de 1997. Bem, por hora, só nos resta esperar, enquanto isso desfrute o quanto puder de “Fallen Angels”.