Por Anderson Nascimento
Já em seu primeiro lançamento, um EP homônimo, lançado em 2010, a banda paulista “Elevadores” consegue deixar aparente o seu talento para a construção de temas que, com impacto imediato, conquista em cheio o ouvinte, chamando a atenção de todos para a qualidade do combo instrumental, letras e melodia.
Formados a partir de remanescentes das bandas “Nitrobox”, “Supersad” e “Starfish 100”, Wesley Martines (voz e gaita), Henrique Almeida (guitarra e voz), Eduardo Rezende (bateria) e André Gonsales (baixo), investiram pesado no bom gosto e em suas influências para hastear a bandeira do Rock alternativo, ilustrado com referências que vão de Bob Dylan ao Rock dos anos 00, envolvendo “The Libertines”, “The Vines”, “Arcade Fire” e “The Strokes”, sem deixar de passar pelos anos oitenta de bandas como “The Smiths” e “The Cure”.
E essa dedicação não foi à toa, a banda mandou muito bem nas paradas do site Trama Virtual, atingindo o 12° lugar, e entrando nas recomendações do site. Além disso, a banda gravou entrevistas para rádios, tiveram músicas em programas de rádios independentes, e tocaram fora de São Paulo, em cidades musicalmente importantes como Brasília.
“Combatendo Gigantes” já revela de cara uma das grandes influências da banda, os americanos do “Weezer”. Com letra crítica, a banda se embebeda de instrumentais flamejantes e pontuais, trazendo em seu andamento sorrateiras inventividades sonoras, o que dá início à construção de um perfil bastante peculiar.
“Tramando”, é outro momento que define bem a banda. Repleto de arranjos vocais que roçam a perfeição praticada de forma abundante nos anos sessenta, a faixa traz uma letra reflexiva, que vai te envolvendo sem pressa, mas de maneira suntuosa.
“Festas de Dezembro” já deixa um pouco o som alternativo de lado e investe no Rock and Roll, com fraseados que lembram “Stones”, é uma canção embebida em riffs de toda sorte de bom gosto, e que, de forma inteligentíssima, chama (e coloca) todo mundo pra dançar.
Essa variedade musical é capaz de surpreender o ouvinte que para pra ouvir o trabalho da banda pela primeira vez, e testa a aptidão do mesmo para a definição central do som do grupo. É o caso da balada “Mais Uns Cem Anos”, a grande faixa do disco, que distribui ternura e peso na mesma medida, flertando (e muito) com os longínquos anos setenta, principalmente no que tange às guitarras e o côro, inteligente, esperto e azeitado.
Supresas musicais como provoca o trabalho dos “Elevadores” em seu primeiro EP, ajudam a confirmar que a cena independente brasileira nunca esteve tão relevante. Em pensar que o vocalista da banda abre o EP cantando “Sei que vão me odiar...”, como em um desses paradoxos que a música sabe armar direitinho.