Por Rodrigo Paulo
Um dominus poscriptu (senhor exilado na tradução do latim). Essa é a personagem encarnada por Jay Vaquer em sua nova obra lítero-musical, intitulada “Canções De Exílio”, seu oitavo disco e mais um com a produção de Moogie Canázio (parceria antiga e que sempre dá ótimos resultados). Mas personagem e cantor/artista se confundem nesse novo trabalho. Afinal Jay passou 5 anos sem lançar um disco autoral. O último foi “Umbigobunker!?”, passando pelo primeiro volume da série Transversões “Antes da Chuva Chegar”, que trouxe novas roupagens para versões das músicas de Guilherme Arantes mas que não agradou aos fãs mais devotos por mostrar um Jay Vaquer mais contido em sua interpretação.
Abrindo o disco temos “Quantos Tantos”, uma crítica social a futilidade da era das selfies e de outros comportamentos extravagantes que inundam a internet. Um ótimo arranjo, com letra leve na escala Jay Vaquer de composição, que faz sala para a composição mais forte do disco, embora o seu arranjo não seja o mais forte, mas é bastante intenso: “Tudo Que Não Era Esgoto”. Poesia aliada a frases de efeito, pra quem literalmente tem estômago forte.
“Boneco De Vodu” é uma das melhores faixas do disco. Casamento perfeito de composição inspiradíssima, voz e melodia. Facilmente podemos encaixar uma frase complementar e desbocada no seu refrão (eu no show faria o mesmo). O mesmo vale para “Como Quem Não Quer Nada” que também tem um refrão forte e muito fácil de grudar na cabeça. Mais uma faixa porradaria.
Também temos calmaria nesse disco e seus representantes, posicionados de forma estratégica entre uma porradaria e outra, são: “Canção do Exílio Domiciliar”, “Outrora” (A vida passando por mim...), outra excelente faixa e com refrão que gruda na cabeça, “Possibilidade (Se Já Não Caibo)”, com a participação de Jane Duboc nos vocais e “Hematomas Da Teima”, outra faixa que merece destaque.
A grande surpresa de “Canções De Exílio”, sem dúvida, é “Legítima Defesa”, com a participação especial de Megh Stock. A faixa é a parte 3 na sequência da saga do aspirante a ator (nasceu pra ser uma estrela...), seguindo o que foi narrado em “Estrela De Um Céu Nublado” do disco “Formidável Mundo Cão” de 2007. Mais uma composição atualizada com os acontecimentos do momento. Segundo o cantor as partes 1 e 4 virão nos próximos trabalhos... Para fechar o disco temos “Baudaluv”, uma faixa romântica, como há muito não se ouvia num disco do Jay.
Para os fãs que chiaram no disco anterior, podem comemorar. “Canções do Exílio” é um disco de novidades, com gravações realizadas fora do Brasil e contando com participações de músicos como Michael Eckes e Chris Kahn. Houve um bom aproveitamento dos vocais adicionais e efeitos. Tem boas músicas com arranjos inéditos à sonoridade já conhecida de Jay Vaquer e excelente produção musical do Moogie Canázio. Uma volta do exílio em ótima hora e em sua melhor forma. O cantor debochado e visceral está de volta e muito bem atualizado.