Por Anderson Nascimento
Que o novo disco do Dylan segue uma linha precedida por "Love and Theft" e "Modern Times", todos já sabemos. Porém para aqueles que estão esperando um álbum absolutamente continuativo, aí vai uma dica, não é bem por aí.
Neste álbum, Dylan está mais caipira, isso visto que o cantor, compositor e músico, deu um capricho ainda maior no quesito instrumental, o que faz esse álbum soar como nunca antes.
Uma coleção de instrumentos interioranos como bandolim e acordeom, fazem a sonoridade desse álbum ecoar como se saído de uma casinha humilde no delta do Mississipi. Ouvir esse álbum é como entrar em um desses bares retratados nos filmes, que tem como cenários cidades no meio do nada, e pedir um Uísque envelhecido e amargo. Tem dúvida quanto a isso? Então ouça "If You Ever Go To Houston". A canção tem um acordeom que com a sua insistência, fica gravado em sua memória no ato. A letra é muito interessante e, novamente, vai buscar inspiração no som feito bem antes de Bob Dylan aparecer para a música.
Não que o fato de as músicas serem quase que completamente inspiradas em canções de mais de cinqüenta anos, atrás signifique algum demérito, mas agora sim, nesse ponto, temos uma grande interseção com os álbuns anteriores. Dylan não tem a intenção de fazer música pra tocar no rádio, nem mesmo pra entrar em futuras coletâneas, mas ao contrário disso tudo, Dylan faz música para tocar dentro de cada um. Com a voz esganiçada pelo tempo, que paradoxalmente soa perfeita para a música que ele faz, Dylan fala sobre amores, mulheres e, cara, te faz dançar! Ouça a faixa de abertura “Beyond Here Lies Nothin'”, primeira música a ser liberada para audição no site do Dylan, e comprove.
A aproximação com o Blues está escancarada em faixas como "My Wife´s Home Town", agradável demais, mostra um Dylan falando simples e emprestando um swing à canção.
Em Jolene, Dylan recorre à pegada Rock´n´Roll do início dos anos cinquenta, quando o Rock ainda se confundia com o Blues, e com uma letra teoricamente inocente, Dylan se sai bem em umas das músicas mais acessíveis do álbum.
Ainda que calcado no Blues e Country, Bob Dylan entrega-nos uma boa dose de Rock. Na faixa "Shake Shake Mama", uma avalanche sonora embebeda o ouvinte com um Rock de primeira qualidade, mas que peca um pouco por não ter um final mais trabalhado.
E para não deixar de citar um momento genial, a letra de "I Feel A Change Comin' On" é simples e brilhante, situando o artista em seu tempo, e finalizando com a frase "Some people they tell me, I got the blood of the land in my voice" (algumas pessoas me dizem que eu tenho o sangue da terra em minha voz) que certamente fará o fã viajar na interpretação da mesma.
Após ouvir o álbum, percebemos o porquê o álbum surpreendeu a todos, sendo anunciado poucas semanas antes de ser lançado. Uma banda afiada, afinada e um líder bastante à vontade para apresentar suas novas canções ao mundo.
Em apenas dez músicas, Dylan dá o seu recado e aponta para um caminho confortável e muito prazeroso, em um álbum que por si só justifica o primeiro lugar em vendas nos EUA.