Resenha do Cd Abraçaço / Caetano Veloso

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ABRAÇAÇO
CAETANO VELOSO
2012

UNIVERSAL MUSIC
Por Pedro Martins

Terceiro capítulo da parceria entre Caetano Veloso e a banda Cê, Abraçaço segue a tendência de seus antecessores ao buscar novos caminhos às custas de tropeços ocasionais. Em outras palavras, estamos, novamente, diante de um disco corajoso, como têm sido os últimos trabalhos de Veloso.

Ao traçarmos uma possível linha evolutiva, que remonta aos discos Cê e Zii & Zie, nota-se que as canções de Abraçaço passaram por um processo de simplificação harmônica e melódica. O álbum anterior, Zii & Zie, trazia um material musical mais sofisticado, enquanto que o atual se assemelha, nesse aspecto, ao primeiro da série, Cê. A canção-título é um bom exemplo disso: a cadência harmônica descendente que acompanha suas estrofes é reutilizada, sem pestanejo, no refrão. Não por acaso, a canção mais forte do disco é das mais simples, “Estou Triste”, um lamento tocante em que som e palavra se equilibram com maestria. Outra semelhança entre Cê e Abraçaço é a incursão mais visível no rock, ainda que de forma mais madura neste. Contudo, os versos aparecem, aqui, mais ricos, obscuros e repletos de referências, como pode ser percebido, especialmente, em “A Bossa Nova é Foda”. Reitero que Abraçaço está longe de soar intocável mesmo aos ouvidos mais simpáticos ao trabalho do baiano septuagenário. Mantendo hasteada a bandeira do Tropicalismo, Caetano Veloso se arrisca em experimentações que não valem mais que isso, como “Parabéns” e “Funk Melódico”. E parece mesmo sempre haver espaço para o (des)proposital em seus discos: a ruptura se tornou tradição, o que exige do artista, bem como dos comentadores de sua obra, uma revisão profunda de critérios e conceitos.

A sonoridade da banda Cê continua impecável. A guitarra de Pedro Sá divide a responsabilidade das melodias com a voz de Veloso, e o resultado é um diálogo que torna a trama dos arranjos ainda mais interessante. Ricardo Dias Gomes alterna, novamente, o contrabaixo e o piano elétrico; e Marcelo Callado se aventura muito bem até mesmo na tradução de padrões rítmicos do funk carioca para a bateria.

De maneira geral, a simplicidade harmônica e melódica em Abraçaço possibilitou um mergulho mais profundo na estética do rock e, ao mesmo tempo, um trabalho minuscioso do componente literário. Enquanto Cê se destacou pela irreverência, e Zii & Zie, pela qualidade do material musical, Abraçaço salta aos ouvidos pela maturidade dos versos, que vão se ajustando, gradualmente, às ásperas texturas e aos contornos irregulares da banda Cê.

Resenha Publicada em 26/12/2012





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