Por Pedro Martins
Qualquer Coisa apresenta Caetano Veloso interpretando célebres canções assinadas por figuras como Chico Buarque, Jorge Ben e Paul McCartney. O formato voz e violão é amplamente explorado neste disco, e o resultado impressiona pelo desempenho vocal e instrumental. Há também espaço para canções do próprio Veloso, que, aliadas às releituras, formam um todo consistente e bem amarrado.
Dentre as canções inéditas, destacam-se os cromatismos vocais em “Da maior importância” e o concretismo nos versos de “A tua presença morena”, ambas executadas em um formato mínimo, valorizando a ótima interpretação de Veloso. As canções autorais também aparecem nas duas pontas do disco: na abertura, a boa faixa homônima; no encerramento, a miniatura “Nicinha”.
Os melhores momentos de Qualquer Coisa estão nas boas leituras de um repertório memorável, que inclui clássicos como “Samba e Amor”, “Jorge de Capadócia” e “Eleanor Rigby”, em que o violão e a voz de Caetano Veloso emprestam lirismo e sagacidade às ótimas canções selecionadas para o disco. Também receberam um trato refinado as canções “Madrugada e Amor”, de José Messias, e “La Flor de La Canela”, de Chabuca Granda.
Apesar de não constituir o ápice criativo de seu idealizador, Qualquer Coisa é a melhor indicação para os recém-iniciados na vasta obra de Caetano Veloso. A dedicação do compositor ao trabalho de intérprete não apenas evidencia suas opções estéticas, mas também prepara o leitor para receber e apreender suas próprias criações. Portanto, aqueles que vêem em Caetano Veloso apenas um grande nome quando se trata de música popular no Brasil, esta é a melhor porta de entrada para um universo sem volta.