Por Pedro Martins
Após uma série de discos voltados para a sonoridade oitentista, Caetano mostra maior maturidade do compositor na relação com a tecnologia. Sua sonoridade é límpida e se distingue pelo equilíbrio entre elementos acústicos, elétricos e eletrônicos. Do ponto de vista da criação, não há obras-primas, apesar da beleza de "Ciúme" e da irreverência de "Eu Sou Neguinha?".
"José" e "Noite de Hotel" são bem escritas e executadas. "Giulietta Masina" se apropria de canções anteriores (“Cajuína” e “Lua, Lua, Lua, Lua”), arranjadas de forma criativa e eficiente. "Ciúme" traz um lirismo regional que remete à própria interpretação de Veloso de "Asa Branca", do disco homônimo de 1971. "Eu Sou Neguinha?" se destaca, conforme dito anteriormente, pela ousadia e boa poesia. Embora baseadas em um material musical curto, remetendo ao minimalismo de outra fase do compositor, "Depois que o Ilê Passar" e "Iá Omin Bum" são experimentos bem-sucedidos. Parceria com Tony Costa, "'Vamo' Comer" é um raro momento de extroversão em um disco mormente discreto. "Valsa de uma Cidade", de Antônio Maria, recebe uma leitura simplória, ainda que bem executada. Além disso, o disco traz Veloso muito à vontade na interpretação de "Fera Ferida", de Erasmo Carlos e Roberto Carlos.
Os arranjos de Caetano são bem construídos e permitem que as canções apareçam em primeiro plano. A sonoridade do disco se mostra bastante eclética, incluindo um solo de guitarra saturada em "Noite de Hotel" e um belo violão regional em "Ciúme". A percussão também marca forte presença em faixas como "Depois que o Ilê Passar", "Iá Omin Bum" e "'Vamo Comer".
Com o perdão da rima sem propósito, Caetano é um disco mediano. Não há um momento brilhante, mas também não há canções muito abaixo do mínimo que se espera de Caetano Veloso. A impressão que fica é que, desta vez, o compositor decidiu não se arriscar, optando por um caminho conhecido, sem maiores desvios ou surpresas.