Por Pedro Martins
Primeiro lançamento de Caetano Veloso nos Estados Unidos, Estrangeiro exagera nas concessões ao modelo de produção norte-americano, o que resulta em arranjos carregados e, não raro, comprometidos. As composições se submetem à agressividade dos arranjos, e a voz de Veloso se perde em meio a teclados, baterias e efeitos eletrônicos sem propósito.
"O Estrangeiro" traz um belo refrão, embora o material apresentado não justifique sua longa extensão. Plana e repetitiva, "Rai das Cores" é uma daquelas faixas que passam despercebidas. O interesse que "Os Outros Românticos" pode despertar está relacionado à poesia repleta de assuntos polêmicos, pois a música é rasa e o arranjo, excessivo. "Jasper" segue o mesmo princípio: longa, densa e pouco relevante. Mais com a cara de Veloso, "Este Amor" inicia com um bom tema, mas seu desenvolvimento deixa a desejar. O disco vale mesmo pela musical e poeticamente brilhante "Branquinha", escrita para a então esposa do compositor, Paula Lavigne. De qualquer forma, "Outro Retrato" mostra inventividade poética e um material musical interessante. "Meia-lua Inteira", de Carlinhos Brown, pode até não ser uma obra prima, mas cumpre bem o papel de movimentar um disco de águas paradas que não parece conduzir a lugar nenhum. Enfim, o disco termina melhor do que começou, com a bem escrita "Genipapo Absoluto".
Se o álbum de estúdio anterior, Caetano, marcou a volta ao equilíbrio nos arranjos, Estrangeiro significa, novamente, um passo atrás. A maioria das faixas traz arranjos densos e estravagantes, tornando a audição cansativa e conduzindo a apreciação mais para a sonoridade apocalíptica do disco do que propriamente para as canções de Veloso.
Estrangeiro vem mostrar que Caetano Veloso aprendeu melhor a lição sobre ser universal que os próprios ditos “universais”. O verde-amarelismo do compositor se mostrou, na verdade, mais eficaz que qualquer esforço cosmopolita: “Branquinha” diz mais que mil palavras.