Por Pedro Martins
Uns é um álbum curto, talvez por não haver mesmo muito o que mostrar. Salvo, principalmente, pelo lampejo “Você é Linda”, o disco apresenta um Caetano Veloso confuso entre meios-poemas cantados e estravagâncias pop sem profundidade.
A faixa-título traz muitos jogos de palavras, mas pouca música. Arrisco dizer que “Uns” seria mais interessante no papel, ou recitada na voz de Veloso. O sucesso “Eclipse Oculto” pode até agradar pelo ritmo dançante, mas não passa disso: muito pouco para a envergadura de seu autor (seria uma jóia para o Barão Vermelho, que gravou a canção posteriormente, mas não para Veloso). Contudo, “Você é Linda” é uma bela canção: seguramente, a melhor do disco. Há ainda outros bons momentos em Uns, como “Musical”, de Péricles Cavalcanti, que consegue equilibrar música e poesia como Veloso não conseguiu na faixa-título; e “Peter Gast”, que encanta pela atmosfera intimista e pelo ótimo arranjo.
A Outra Banda da Terra já não mostra, em Uns, a mesma sintonia de outros discos. Talvez isso explique, em parte, sua substituição pela Banda Nova no ano seguinte. Os sons de bateria aparecem muito modificados, impondo às canções uma “sonoridade de discoteca” nem sempre adequada. Além disso, “Você é Linda” merecia um arranjo mais sensível, que exprimisse melhor a sutileza da canção.
Resta a impressão de que Caetano Veloso ainda estava em busca da síntese entre música e poesia. Talvez fosse mesmo preciso tentar, e eis o significado de Uns: uma tentativa. Ou ainda, “Você é Linda” e “Peter Gast”. Questão de perspectiva.