Por Anderson Nascimento
Desde o lançamento do bem-sucedido “AM” (2013), os fãs da banda inglesa Arctic Monkeys vem aguardando por novidades do quarteto liderado por Alex Turner. No entanto, o novo som do grupo deverá causar estranheza aos ouvintes do grupo.
O sexto álbum da banda, escrito e produzido pelo próprio Alex, tem introdução ambientada num inusitado clima setentista que bebe da Soul Music na longa “Star Treatment”. Uma batida seca dá sequência ao álbum com “One Point Perespective”, faixa que segue mostrando que a banda quis experimentar outras perspectivas neste mais novo rebento.
“American Sports” só confirma tal fato, ou seja, há a exploração de outros instrumentos, muito piano, por exemplo. Aliás o piano foi o instrumento utilizado como base para a criação do das canções do álbum, talvez por isso o instrumento tenha certo protagonismo no disco.
Não há como não destacar a impressionante audácia do grupo, ao romper, ao menos temporariamente, com o seu som característico, algo parecido com o que fez a banda The Strokes em seu segundo álbum “Room of Fire” (2003). Já em termos conceituais, o disco trata de assuntos como ficção científica, consumismo, tecnologia, política e religião.
Se não estivéssemos acostumados com Rocks indies como “Fluorescent Adolescent” ou “I Bet You Look Good on The Dance Floor”, certamente lançaríamos um olhar diferente sobre faixas como a boa “Tranquility Base Hotel & Casino”, que dá nome ao disco e que, há de se convir, é curiosa e muito bem trabalhada.
Falando em curiosidade, suei frio com “ Goden Trunks”, faixa que me lembrou o Lennon de “#9 Dream”, e o single “Four Out of Five” que tem algo amalgamado entre Beatles e David Bowie. Esse é, sem dúvida, o melhor momento do disco.
Se ao ouvir o disco na sequência, o ouvinte ainda aguarda encontrar o Rock despojado do grupo a qualquer momento, “The World’s First Ever Monster Truck Front Flip”, faixa que inicia a segunda metade do disco, joga uma pá de terra por cima das esperanças, representando o auge das esquisitices deste trabalho.
A segunda metade do disco cai um pouco em termos de qualidade, ainda que faixas como a balada “Batphone” destaque-se por seu instrumental limpo e democrático, além da oportunidade de perceber com mais clareza o vocal impressionante que Alex Turner possui navegando sobre outros mares.
O disco encerra com “The Ultracheese” que instrumentalmente lembra canções clássicas americanas – aquelas que Rod Stewart cantou em até enjoar –, parecendo fazer uma brincadeira (de mau gosto?) com os fãs do grupo. Veja bem, tudo bem gravado e com seu valor, embora em absolutamente nada me lembre o grupo de hits como “Do You Wanna Know”, “R U Mine?” e “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, isso só pra falar de canções do disco anterior.
O novo disco da banda Arctic Monkeys vai deixar muito fã nervoso, mas há valor neste trabalho, se não pelo Rock, mas pelas canções e pela audácia do grupo. Trata-se de um disco para se ouvir muitas vezes, com atenção, e só depois xingar ou colocá-lo em posição de destaque na sua coleção.