Livro é um disco bastante brasileiro, tanto do ponto de vista da criação quanto pelas escolhas estéticas nos arranjos. Predominam harmonias que remetem ao samba e à bossa-nova, acompanhadas, em sua maioria, por grandes conjuntos de percussão e pelo violão característico de Veloso.
Na abertura do disco, o samba “Os Passistas” se mostra um bom começo pelos versos bem assentados na harmonia simples, porém eficiente. “Livros” traz um texto interessante, apesar do acompanhamento um tanto sujeitado à declamação da poesia. “Onde o Rio é Mais Baiano” combina o samba tradicional com elementos da música baiana dos anos noventa. “Manhatã” é uma canção menos expansiva que se destaca pela melodia elaborada. De caráter experimental, “Doideca” possui densidade rítmica e melódica, mas soa um tanto gratuita. Já “Um Tom”, também de cunho experimental, possui construção minimalista e se destaca pela inventividade melódica. Ainda se valendo do minimalismo, “How Beautiful Could a Being Be”, de Moreno Veloso, se desenvolve em torno da frase-título em uma trama interessante. “Você é Minha” é construída a partir do padrão rítmico de “Você é Linda”, do álbum Uns (1983), compartilhando com esta, ainda, a melodia do refrão, embora em uma harmonia diferente. “O Navio Negreiro” é uma leitura de fragmentos do poema homônimo de Castro Alves. “Não Enche” é o melhor momento do disco: uma canção bem escrita, extrovertida e de ritmo latente, sintetizando, de certa forma, a proposta estética do disco. O samba-canção “Minha Voz, Minha Vida” é bem acabado e traz a novidade do acompanhamento por percussão. “Pra Ninguém” relembra grandes intérpretes da música brasileira, coroando, no final, João Gilberto. “Alexandre” canta a vida de Alexandre, o Grande, príncipe e rei da Macedônia. O disco ainda traz uma ótima leitura do samba “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso.
O grande diferencial da sonoridade de Livro está na forte presença, do início ao fim, de percussões contundentes. Em alguns momentos, como em “Onde o Rio é Mais Baiano”, o samba ganha feições da recente música baiana de trio elétrico. Vale destacar, também, a presença do naipe de metais em “Não Enche” e a guitarra brilhantemente executada (porém não creditada) em “How Beautiful Could a Being Be”.
Livro é um bom disco de canções criteriosas e arranjos impecáveis. Sua assinatura é o grande grupo de percussões, e o melhor momento, “Não Enche”, canção que explora com sucesso as propostas estéticas escolhidas por Veloso neste trabalho.