Produto da melhor fase da carreira de Caetano Veloso, Bicho apresenta um ciclo memorável de canções. A pequena duração pode enganar a princípio, mas trinta e cinco minutos foram suficientes para erigir obras-primas como “Um Índio”, “Tigresa” e “O Leãozinho”.

Logo na abertura, a elétrica “Odara” traz o ritmo dançante das discotecas. Em seguida, “Two Naira Fifty Kobo” explora a rítmica do juju, um estilo de música popular da Nigéria. No refrão de “Gente”, é possível identificar figuras importantes como João Gilberto, Gilberto Gil e Chico Buarque. “Um Índio” traz versos instigantes e um refrão arrebatador. A poesia de “Tigresa” é apimentada com a energia de um rock sutil e elegante. “O Leãozinho” possui qualidade praticamente didática, pois, nesta faixa, Caetano Veloso parte de um material poético-musical bastante simples para construir uma canção autêntica e sofisticada. Enfim, “Alguém Cantando” encerra o disco com um belo dueto vocal.

A estética de Bicho se diferencia por intercalar, com sensatez, instrumentos acústicos e elétricos. Enquanto “Odara”, “Two Naira Fifty Kobo” e “Gente” são acompanhada por guitarra, “Um Índio”, “Tigresa” e “O Leãozinho” possuem acompanhamento no violão. Assim, o disco transita confortavelmente por diverentes texturas: do moderno pré-oitentista ao tradicional e localizado. Além disso, os arranjos orgânicos e o bom desempenho dos músicos evidenciam a qualidade da produção e o entrosamento da banda no estúdio.

Em termos gerais, Bicho é o melhor que se pode encontrar na canção de Caetano Veloso. Muitos dos números mais requisitados de seu repertório estão aqui. Para quem deseja conhecer a particularidade musical e poética desse personagem verde-amarelo, eis a oportunidade.