Por Anderson Nascimento
Jackie Lomax ficou mundialmente conhecido por ter sido o primeiro artista contratado pelo selo Apple dos Beatles. Seu disco de estreia, “Is This What You Want?” (1969), puxado pelo single “Sour Milk Sea” – composição de George Harrison - não teve o impacto esperado e, depois disso, o artista virou lenda.
Ainda assim, vale destacar que Lomax continuou sempre com o seu ofício principal, mesmo sem alcançar o grande sucesso. Sua carreira pós-Apple, se resume ao seu vínculo com algumas bandas, lançamentos discos esporádicos, e participações em álbuns de outros artistas, além dos shows que ele nunca deixou de fazer.
Jackie morreu no ano passado, enquanto estava na Inglaterra para participar do casamento de um dos filhos, porém, antes de sua morte, o cantor vinha preparando o álbum “Against All Odds”, e deixou o disco com pouca coisa para ser finalizada. E é esse o trabalho que acaba de ser lançado.
Embora haja um hiato de quase uma década sem lançar um disco, o trabalho impressiona pela qualidade das canções, além de ser bem tocado e trazer boa interpretação por parte do Jackie, renovando a idéia de que o cantor sempre foi um bom intérprete para ritmos como Blues, Soul e R&B.
A faixa de abertura, que também dá nome ao disco, ainda conserva um pouco da essência setentista da qual o cantor experimentou ao participar de bandas como “Heavy Jelly” e “Balls”, principalmente pelos metais e solos de guitarra bem pontuados. Essa sonoridade também se repete no Soul “The Little Things Of Love”, uma das melhores faixas do álbum.
Essa atmosfera está em todo o disco, faixas como “Easier To Give In”, parecem extraídas de discos da Motown, evidenciando que, apesar de sua carreira ter iniciado no começo dos anos sessenta, a década que o caracterizou foi mesmo a década seguinte.
O blues é outro elemento que influencia fortemente esse trabalho, como canções como “Don’t Talk Down On Me” e “In Love For Good” podem atestar. Ao longo do disco encontramos até variações do estilo, como no caso da ótima “Lets Call It Quits”, que acaba tendendo ao Jazz.
Entre faixas menores como “I Must Be Doing Something Right”, e belezuras como “Annie (I Can’t Say Goodbye)”, faixa responsável por finalizar o disco e que também é uma homenagem à sua esposa, têm-se ao todo um álbum incrivelmente acima da média, o que acaba encerrando de forma digna a sua carreira.
Mesmo com o equívoco de se repetir um pouco além da conta na segunda parte, o álbum proporciona uma bela viagem ao universo deste artista que infelizmente não teve a oportunidade de ver o seu trabalho lançado. Ainda bem que, graças aos seus realizadores, essas canções puderam chegar aos nossos ouvidos.