Por Valdir Junior
Depois de seis anos sem gravar um disco solo de inéditas, e de muita expectativa e falatório sobre a sonoridade do mesmo, finalmente chega às mãos “New”, o décimo sexto álbum de Paul McCartney. Na tentativa de achar um produtor que trouxesse algo diferente para as canções (uma coisa que Paul procurou fazer a partir dos anos 80, em discos como “Press To Play” e “Flowers and the Dirt”, alguns nomes foram sugeridos e os escolhidos foram Paul Epworth, (Adele, Florence and the Machine, Cee Lo Green, Bruno Mars) e Mark Ronson (Amy Winehouse, Kaiser Chiefs, Robbie Williams) e, fazendo uma ligação com o passado musical de Paul mas de olho no futuro, Ethan Johns (filho de Glyn Johns) e Giles Martin (filho de Sir George Martin).
A Principio a idéia seria ver como cada produtor lidaria com algumas músicas e depois um seria escolhido para produzir o álbum inteiro. Mas após ouvir as gravações realizadas e perceber que a sonoridade e estilo das faixas eram bem variáveis e fugiam da expectativa de um som típico de Paul McCartney, as quatros ideias se tornaram uma só e o álbum acabou tendo os quatro jovens produtores na condução do trabalho.
Sendo quem é, e sempre tentando não copiar o que já fez (o que deve ser muito difícil para um artista que trabalha com musica a pelo menos 50 anos), a nova leva de músicas que Paul tinha para um novo álbum conseguiram (a despeito do “Toque-de-Midas” dos produtores) demonstrar qualidade e sinceridade revigorantes e aptas a se moldarem para os sons produzidos atualmente. Claro que em algum momento, uma passagem ou “clima” de determinada musica nos trás uma lembrança de algum momento da carreira de Paul (são poucos momentos assim em “New”), mas no geral encontramos músicas com um novo frescor e cheias de novas idéias.
“Save Us” a faixa de abertura é um Rock com uma sonoridade que lembra um pouco o tipo de som feito por bandas como Strokes, Black Keys e também Jack White. Produzida por Paul Epworth, tem Paul tocando um Baixo pulsante, Riff de guitarra rascante também tocada por Paul e um vocal energético, a bateria tocada por Epworth conduz a música num ritmo delirante e direto. Essa música tem tudo para ser uma das que ao vivo farão todos cantarem e pularem juntos. “Alligator” traz todos os músicos da banda de Paul tocando (todos participam no álbum, mas essa é uma das poucas em que todos estão juntos), traz novamente um bom riff de guitarra e um som de sintetizador que permeia a faixa toda.
"On My Way to Work" a primeira das faixas produzidas por Giles Martin é essencialmente uma balada acústica bem ao estilo de Paul, que faz um belo vocal e novamente traz sua banda tocando, com destaque para a guitarra de Rusty Anderson. "Queenie Eye" inspirada numa brincadeira de rua dos tempos em que Paul era criança, e na letra cita “O.U.T. spells out”, da parte final do refrão de “Christmas Time Is Here Again” do single especial de natal dos Beatles de 1967. Bem animada e uma das faixas mais legais do álbum, "Queenie Eye" vai ser o próximo single a ser lançado (com direito a vídeo clipe com participação de Johnny Deep e Kate Moss entre outros), mostra também um lado mais Psicodélico e dançante do álbum.
Uma das melhores e mais marcantes faixas é "Early Days", outra faixa acústica, nostálgica e confessional de Paul, onde lembranças de sua amizade com John Lennon se misturam a uma queixa recente sua, a de que por mais que as pessoas digam nos livros e etc o que aconteceu com ele no início de sua vida (quem fez o que e quando), nenhuma delas sabem o que realmente aconteceu por que apenas ele estava lá.
A faixa título “New” é uma pequena obra prima, contagiante, alegre, assoviável, totalmente otimista, produzida por Mark Ronson e com adicional produção de Giles Martin, é a típica canção que não sai de nossas cabeças e outro provável grande momento dos shows quando essa musica for tocada, os backing vocals muito bem feitos dão um brilho ainda maior à musica. "Appreciate" produzida por Giles lembra as experimentações sonoras que Paul fez no álbum “Press To Play”, mas ao contrário daquele álbum, aqui ele acerta em cheio numa faixa cheio de climas e com uma guitarra slide no final matadora, é uma faixa de numa primeira passada, mais dever se insistir na audição para melhor apreciá-la.
"Everybody Out There" outra faixa contagiante e com vocal feito sobre medida para ser cantada “com todo o pulmão e força” nos shows. O Riff no violão de 12 cordas é chamativo para uma dança e no todo a faixa é outro grande acerto de Paul no álbum (ela numa dobradinha com “Hope of Delirevance” no shows cairia muito bem) a música termina com pequenos sons de código Morse. "Hosanna" é a música do álbum mais citada nesse tempo todo de espera, é a mais medianas das musicas do álbum, com produção de Ethan Johns, chega a ser um pouquinho psicodélica e nada mais.
“I Can Bet” produzida por Giles Martin é uma da melhores músicas do álbum, começando da introdução matadora da bateria e do ótimo som de guitarra e teclado (tocados por Rusty e “Wix” respectivamente), lembra um pouco a fase Wings de Paul, mas com uma sonoridade mais atual. “Looking At Her” outra faixa cheia de climas e batidas que não esperaríamos ouvir num disco de Paul McCartney, mas é outro bom exemplo de como soar atual sem perder a identidade, destaque para a guitarra de Rusty Anderson.
“Road” é segunda faixa mais fraca do álbum, o arranjo e som lembram novamente um pouco as músicas do álbum “Press To Play”. Há duas faixas bônus na versão “Deluxe”: "Looking at Her" com sua guitarra slide e Paul cantando com toda vontade do mundo, fazem dessa mais uma grande musica do álbum, com certeza ao vivo essa musica vai crescer ainda mais; e "Get Me Out of Here" um Country Blues muito do maroto, tocado apenas com violões e percussão, numa gravação que recria a sonoridade dos velhos discos de blues com tudo sendo tocado ao vivo e ao mesmo tempo, principalmente no tratamento do vocal rústico de Paul, essa como outras é uma das músicas mais legais do álbum.Vai contagiar bastante o ouvinte. Como faixa escondida ao final de “"Get Me Out of Here" temos “Scared” com Paul sozinho ao piano, cantado de forma sofrida e sincera o medo de dizer que encontrou um novo amor e não sabe como colocar isso tudo para fora, dizendo a pessoa amada e ao mundo.
O Resultado final de “New” é totalmente positivo, tanto para carreira de Paul McCartney (com certeza vai figurar na lista dos melhores discos de todos os tempos de sua carreira), e mostra também que Paul ainda produz música de qualidade, está antenado com a musica feita hoje em dia e que continua olhando sempre para frente, sem acomodar com o passado.
Como a energia desse jovem senhor de 71 anos parece não ter fim, sua agenda continua com shows marcados pelo mundo afora, e com esse novo álbum cheios de boas canções, ele no Press Release do álbum demonstrou a vontade de tocar o álbum inteiro nos shows, dado a sua empolgação com o mesmo e a satisfação em continuar produzindo aquilo a que dedicou toda sua vida: música!
“New” é realmente um grande álbum e com certeza vai figurar na lista dos melhores desse ano de 2013, agora só nos resta dar “Play” novamente e escutar Sir Paul McCartney nos dizendo: “We can do what we want /We can live as we choose /You see there's no guarantee /We've got nothing to lose”.