Por Valdir Junior
Sendo bastante prático, as coletâneas, as boas, servem para dar uma visão geral da obra de um artista, com seus maiores sucessos e contextualizar um período de sua carreira, no meio disso tudo, como atrativo para aqueles fãs e colecionadores que já tem todos os discos, colocar uma ou mais músicas inéditas, geralmente gravadas especialmente para a coletânea e às vezes, adicionar faixas raras, disponíveis somente em compacto, gravadas para projetos especiais ou lados B raros. Isso para valorizar a coletânea e transformá-la numa antologia séria dentro da discografia do artista. Infelizmente isso é o que não acontece com “Pure McCartney”, o mais novo lançamento de Paul McCartney.
Oficialmente “Pure McCartney” é a quarta coletânea de Paul em seus quarenta e cinco anos de carreira solo e a primeira depois do projeto/documentário “Wingspan - Hits And History” de 2001, onde Paul reviu seus dez primeiros anos de carreira solo e com os Wings, numa homenagem a memória de sua esposa Linda McCartney, falecida em 1998. Antes disso, Paul havia lançado as coletâneas “All The Best” em 1987 e “Wings Greatest” em 1978, estas três coletâneas se destacam por ter aquelas características ditas acima.
“Pure McCartney” chega ao mundo nos formatos físico e digital, em versões com 39 faixas (CD duplo), 41 faixas (Vinil Quádruplo) e 67 faixas (Deluxe Editon com 4 CDs), numa seleção, que conforme o relese, foi escolhida pelo próprio Paul e sua equipe na MPL Communications Ltd, e que pretende, se é que isso é possível, cobrir toda a carreira de Paul. Logo de cara percebemos que alguns discos de Paul, como “Flowers in the Dirt” e “Driving Rain”, foram totalmente negligenciados e não estão representados por nenhuma música, e fica a pergunta do por que?
Nitidamente feita para agradar os novos fãs, “Pure McCartney”, é o equivalente a um mosaico sonoro, com faixas de sucessos como “Band On The Run”, “Another Day”, "Maybe I'm Amazed", “Mull of The Kintyre”, “My Love” e “Pipes of Peace” entre outras, lado a lado com músicas não tão famosas, mas de muita qualidade como "Warm and Beautiful", "Arrow Through Me", "The Song We Were Singing", "Nineteen Hundred and Eighty-Five" e "Heart of the Country", isso na edição dupla e lançada no Brasil. A edição “Deluxe” de quatro CDs, vai mais além nesse quesito, colocando faixas como "Big Barn Bed"; "Bip Bop"; "Winedark Open Sea" e "Don't Let It Bring You Down" enfileiradas a outros sucessos.
Embora todo fã possa reclamar que suas faixas favoritas tenham ficado de fora, eu chamo atenção para aquilo que mais faz falta em “Pure McCartney”, as faixas que não estão nos discos oficiais de Paul, músicas gravadas para trilhas de filmes ou projetos especiais, como “Vanilla Sky” e "(I Want To) Come Home", que o próprio Paul deu importância a elas, tocando-as em seus shows e que poderiam finalmente serem incorporadas ao cânone discográfico dele, mas como único atrativo nesse quesito temos em “Pure McCartney” a fraquíssima faixa “Hope for the Future” da trilha do game “Destiny”, isso sem falar que fica difícil de acreditar que um artista tão prolífico e inquieto como Paul não tenha nenhuma música inédita que pudesse colocar aqui.
Analisando friamente esta coletânea, fica a impressão que Paul está cada vez mais racionando sua enorme arquivo de faixas inéditas/raras para lançá-las apenas em relançamentos caríssimos e para poucos, faturando em cima de uma coletânea que traz muito mais do mesmo e não acrescenta nada a sua discografia. “Pure McCartney” em sua edição simples e mesmo a edição deluxe, é indicada para quem não tem NADA de Paul em sua estante, e para os fãs mais radicais e completistas. Enquanto isso Paul fica nos devendo algo mais relevante.