Depois de um estrondo sucesso e total aclamação do público pela turnê mundial de 1976, Paul McCartney finalmente (mas não por muito tempo) se viu longe da sombra do Beatles e seu grupo Wings agora representava o presente e o futuro de sua carreira, os Beatles eram passado. O grande sucesso de vendas do album triplo ao vivo dessa tour “Wings Over America” confirmou a relevância da nova banda de Paul assim como sua musica, mas essa boa fase não duraria muito tempo.
Problemas internos nos Wings tanto de comportamento quanto monetários, fizeram novamente os postos de guitarrista e baterista ficarem vagos, deixando Paul, Linda e Denny Laine mais uma vez sozinhos em meio a gravação do que se tornaria o álbum “London Town” de 1978, e após um período em que a sorte parecia ainda brilhar na casa dos McCartneys com o sucesso do compacto “Mull Of Kintyre” e o nascimento de James Louis McCartney, primeiro filho de Paul, a busca para novos membros para os Wings começou.
Os escolhidos Laurence Juber (guitarra) e Steve Holly (bateria), dois músicos que na visão de Paul ajudariam a dar uma cara e pegada mais roqueira aos Wings, naqueles tempos de Punk Rock de bandas como Sex Pistols e Clash que varria a Inglaterra e o Mundo, a intenção de Paul era fazer um disco mais cru, também devido a várias criticas ao álbum anterior que diziam ter um som muito “Soft Rock”.
Mais uma vez Paul tem planos de gravar o álbum em locais inusitados e após ensaiar e gravar algumas novas músicas no estúdio de sua fazenda na Escócia, as gravações se transferiram para o Castelo Lympne, perto Hythe, Kent (Inglaterra) e logo depois para os estúdios Abbey Road onde o álbum seria finalizado.
Lançado em Junho de 1979, “Back To The Egg” é um disco de Rock and Roll Cru com músicas onde não faltam guitarras, vocais bem ao estilo de Little Richard (um grande ídolo e influência de Paul), baterias avassaladoras e um pouco de musica de vanguarda e Jazz. Coproduzido por Paul e por Chris Thomas, que ajudou George Martin durante as gravações do “Álbum Branco” dos Beatles em 1968, este álbum trouxe uma pouco mais de vitalidade e aproximou o som de Paul ao Rock contemporâneo a época.
Apesar de querer fazer um álbum de Rock, Paul também quis incluir um pouco de experimentalismo no disco e logo no início do álbum encontramos a faixa “Reception” que é uma mistura de várias transmissões de estações de rádio mixadas a uma levada de baixo, guitarra e bateria servem de introdução para a bombástica “Getting Closer”, uma das músicas mais legais feitas por Paul e também ótima para abrir o álbum e um show. “We're Open Tonight” é uma balada ao violão bem ao estilo de Paul e que por pouco não foi a faixa titulo do disco.
“Spin It On” é quase um Punk Rock com uma guitarra base e bateria marcantes que conduzem a música como um trem em disparada; “Again And Again And Again” é uma composição de Denny Laine que faz o vocal principal e dá um clima bem alegre ao andamento do álbum; “Old Siam Sir” começa com uma introdução de guitarra, baixo e piano tão marcantes que fazem um contraponto ao vocal gritado de Paul e é uma das faixas mais roqueiras e legais do álbum; “Arrow Through Me” é uma faixa que apesar de ser muito boa não combina muito com a sonoridade do álbum e a única que não há guitarra, mas tem um dos melhores baixos e vocais já feitos por Paul que é acompanhado pela banda de metais usada pelos Wings na tour de 76.
Para o lado B do álbum (interessante pensar e ouvir esse disco com essa concepção de Lado A e Lado B), Paul nos mostra um novo conceito para orquestra: “Rockestra Theme” com uma superbanda (ou orquestra) formada pelos maiores músicos de Rock da época (James Honeyman-Scott, Hank Marvin [The Shadows], Pete Townshend, David Gilmour, John Paul Jones e John Bonham, entre outros) se juntam aos Wings e tocam uma tema instrumental altamente inspirado e agitado que gruda nos ouvidos e não larga mais: o mesmo time de músicos também foi usado para gravar a faixa "So Glad to See You Here", vale lembrar que tanto Ringo Starr quanto Eric Clapton foram convidados para participar da gravação, mas outros compromissos os impediram.
“To You” é um Hard Rock bem agressivo, cheio de efeitos no solo de guitarra e tem o vocal de Paul bem gritado; “After The Ball” é um Gospel que dá inicio a um peque seguimento que junto as baladas “Million Miles”, “Winter Rose” e “Love Awake” lembram um pouco o medley do lado B do disco “Abbey Road” dos Beatles; “The Broadcast” é outra faixa de vanguarda onde sobre o piano tocado por Paul dois poemas: "The Sport Of Kings" de Ian Hay, e "The Little Man" de John Galsworthy são lidos pelo dono do Castelo de Lympne o Sr. Harold Margery. Fechando o disco temos a balada Jazzy “Baby's Request” que também destoa do álbum apesar de sua qualidade (mais tarde Paul iria novamente usar essa música nas sessões de gravação do album “Kisses On The Bottom” e ela pode ser encontrada na Deluxe Edition desse CD).
As sessões de gravação do “Back To The Egg” foram muito produtivas e várias faixas foram gravadas e eventualmente sairiam em compactos (“Goodnight Tonight”, “Daytime Nightime Suffering”) e outras como “Same Time Next Year” e “Did We Meet Somewhere Before?” (que o baixista do Barão Vermelho, Rodrigo Santos gravaria em seu CD “Waiting On A Friend” de 2010) entre outras que acabariam sendo conhecidas somente em Bootlegs.
Para promover o álbum Paul gravou um especial de TV “Back to the Egg (TV special)” com vídeos para "Getting Closer","Spin It On","Again and Again and Again","Old Siam Sir","Arrow Through Me","Winter Rose/Love Awake","Baby's Request" e "Goodnight Tonight", coisa que não era comum naqueles tempos Pré-MTV. Apesar de toda essa produtividade e empenho, Paul aos poucos parece ter ficado cansado dos Wings, pois após uma curta temporada pelo Reino Unido no final de 1979 e com datas marcadas para o Japão no inicio de 1980, que acabaram não acontecendo devido a prisão de Paul por porte de Maconha na sua chegada ao Japão, que resultaram no cancelamento de toda turnê de divulgação do álbum. Mais tarde durante as gravações do disco “Tug of War” Paul acabaria oficializando o fim dos Wings.
“Back To The Egg” é um álbum um pouco renegado por Paul, visto que nenhuma música do álbum foi tocada em suas turnês solo até os dias de hoje, e ele quase não fala nada a respeito dele em suas entrevistas (talvez porque são poucos jornalistas que realmente se interessam por sua obra e acabam fazendo sempre as mesmas perguntas a ele) mas é um dos melhores álbuns que ele já gravou em toda sua carreira e sua sonoridade permanece atual,vibrante e merece ser redescoberto por todos os que já o conhecem, e também pelos novos admiradores de Paul.