Resenha do Cd Minas / Milton Nascimento

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MINAS
MILTON NASCIMENTO
1975

EMI MUSIC
Por Guilherme Cruz

Este disco vem na sequência de duas obras-primas dentro do riquíssimo universo miltoniano, "Clube da Esquina" e "Milagre dos Peixes". Isso se torna importante para o entendimento do disco "Minas", porque nele Milton trás a musicalidade e a poética construída no "Clube da Esquina", juntamente com o experimentalismo sonoro desenvolvido em "Milagre dos Peixes".

"Minas" versa sobre a infância do cantor carioca que viveu em Minas Gerais desde muito jovem, trazendo em muitas das faixas memórias de tempos e acontecimentos idos.

O disco abre com um instrumental homônimo, que já nos remeta à infância por conta do coral de crianças que divide as vocalizações com o falsete do próprio Milton, com isso, ligando o tema da infância ao próprio cantor.

Depois vem "Fé Cega, Faca Amolada", um dos clássicos de seu cancioneiro, que trata da necessidade de termos fé e força para lutar, música extremamente contundente nos tempos de ditadura. Ao longo do disco uma série de reminiscências da infância são trazidas à tona, amores perdidos em "Beijo Partido"; as experiências e descobertas nas viagens de avião, "Saudade dos Aviões da Panair"; as sensações que tínhamos quando íamos ao circo, "Gran Circo".

Em "Ponta de Areia" Milton nos mostra as dores que a modernidade traz ao transformar tudo por onde passa. Quando ouvimos "Trastevere" não apenas sentimos a agonia de um garoto ao se mudar para a cidade grande, como, ao mesmo tempo, somos bombardeados com um arranjo que nos remete ao caos das cidades, criando uma simbiose absoluta entre letra e arranjo.

As outras músicas "Idolatrada", "Leila (Venha Ser Feliz)", "Paula e Bebeto" e "Simples" constroem esse panoramas de sentimentos e sensações pelos quais passamos quando crescemos. Vale destacar que não apenas as letras e a capacidade incomparável como interprete faz deste disco uma obra-prima, mas o arranjo também constitui uma fonte riquíssima de influências e diálogos com o jazz, rock, música regional, dentre outras.

Aponto também para a escolha do título do álbum, que não apenas remete ao estado onde Milton Nascimento cresceu a absorveu toda uma cultura que influenciou sua música. Mas o título também traz a ideia da mina, como depósito de minérios valiosos, criando a ideia de que o disco é uma fonte de coisas preciosas. Assim como é também a junção das sílabas iniciais dele, Mi-Nas. Ou seja, o disco é a mina das memórias mineiras de Milton Nascimento.

Este disco não é só um clássico de sua discografia como também é da discografia da música popular brasileira como um todo. Constituindo uma obra de valor indiscutível.

Resenha Publicada em 08/07/2016





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