Por Anderson Nascimento
Se já não bastasse a ótima composição de “Barra da Saia” (Karyme Hass, Carlinhos 7 Cordas), faixa que abre o homônimo terceiro álbum da cantora paranaense Karyme Hass, a canção ainda ganha a preciosa participação de ninguém menos que Zeca Pagodinho. É como se um dos maiores mestres do pagode estivesse ali chancelando esse ótimo trabalho.
A faixa seguinte, no entanto, se recolhe à melancolia de “Peito Vazio” (Cartola, Elton Medeiros), em uma releitura comandada por Rildo Hora, de fazer doer a alma, tal qual a tristonha letra sugere. Impressiona o dinamismo da cantora em ir da festança à melancolia de maneira tão profunda, o que pode ser observado no disco em outra dobradinha: a densa “A Cruz e a Espada” (Claudinho Guimarães, Leandro Saramago) e o samba “Noite da Lapa” (Karyme Hass, Carlinhos 7 Cordas).
Essa dinâmica se reflete ao longo do disco, embora este nunca perda a sua unidade. Somam-se a esses exemplos faixas como “Céu e Mar” (Johnny Alf), com luxuoso arranjo de Gilson Peranzetta e “Sabiá, Sabiá, Sabiá” (Bandeira Brasil).
A boa voz e a ginga da cantora casam perfeitamente com os ótimos arranjos presentes nesse disco que conta com um time do primeiro escalão da MPB instrumental, incluindo nomes como Carlinhos 7 Cordas (que é o produtor do disco), Rildo Hora, Gilson Peranzetta, Cláudio Jorge, Paulo Bomfim, além das participações sempre corretas no coro de Analimar Ventapane, Ronaldo Barcelos, Copacabana, Jussara Lourenço e Carla Pietro, dentre outros vários importantes artífices dessa linda obra.
Karyme prova nesse disco ser uma compositora de mão cheia, como revelam composições do naipe da cativante e sincera “Meu Lado Bom” (Karyme Hass). Entre as faixas autorais, que ocupam exatamente a metade do disco, destacam-se, além da ótima faixa-título, o sambão “Raiz Brasileira” (Karyme Hass, Jamelão Netto) e “Gente do Brasil” (Karyme Hass), faixa com cara de Samba-enredo que visa enaltecer o povo brasileiro.
Entre as releituras, certamente “Saudosa Maloca” (Adoniran Barbosa) é uma boa homenagem ao compositor paulistano relida aqui com sonoridade que remete à noite da Lapa, enquanto em “Vou Partir” (Nelson Cavaquinho, Jair do Cavaquinho) Karyme encerra o disco despedindo-se apropriadamente dos ouvintes.
Com uma indicação ao Grammy Latino em 2012, “Barra da Saia” é um disco encantador, por toda a sua sutileza, requinte e repleto de momentos maravilhosos, o disco agrada e reafirma a grande quantidade de artistas talentosos que temos a sorte de ter.