Por Valdir Junior
Depois de um exílio involuntário em Londres, de 1969 até o início de 1972, Gilberto Gil voltou ao Brasil pronto para botar em prática tudo o que aprendeu com a efervescência musical da Swinging London dos Beatles, Rolling Stones e companhia. É deste momento musicalmente rico e histórico que o selo Discobertas coloca nas lojas, o Box “Gilberto Gil Ao Vivo (Anos 70)”, caixa com três álbuns duplos ao vivo, com três shows diferentes desse período pós volta, um dos momentos mais inspirados e excitantes da carreia de Gil.
Produzido pelo produtor e pesquisador Marcelo Fróes e com supervisão de Bem Gil, “Gilberto Gil Ao Vivo (Anos 70)” traz um Gil, ora acompanhando por sua banda, ora somente ele e seu violão, fazendo shows catárticos de três horas ou mais, bem no espírito livre da época, com músicas compostas nesse período de transição entre exílio e volta, algumas inéditas e ainda em processo de refinamento.
O Primeiro CD “Gilberto Gil Ao Vivo - Back In Bahia, 1972”, traz a gravação do show Gilberto Gil em Concerto, de 12 de março de 1972 no Teatro Municipal do Rio, espetáculo esse que Gil vinha fazendo desde janeiro do mesmo ano acompanhando de uma super banda que tinha Lanny Gordin (guitarra), Tutty Moreno (bateria), Bruce Henry (baixo) e Antonio Perna Fróes (teclados), o set list do show mostrava músicas que apareceriam no álbum “Expresso 2222”, como a própria faixa título, “Back In Bahia”, “O Sonho Acabou”, “Cultura e Civilização”, com “Brand New Dream”, música de um álbum que Gil gravava na Inglaterra, mas foi abortado com a volta ao Brasil, e sucessos como “Aquele Abraço” com seus 18m e 45s de duração.
O Segundo CD “Gilberto Gil Ao Vivo - Umeboshi, 1973”, traz um show gravado em abril de 1973 em que Gil vinha experimentando um repertório de músicas inéditas que estavam sendo gravadas num novo disco de estúdio que acabaria sendo arquivado e só seria lançado em 1999, como “Cidade do Salvador”, na caixa “Ensaio Geral”. O Show apresenta algumas músicas que acabariam sendo lançados em compacto ou no próximo disco de Gil como, “Eu Só Quero Um Xodó”, de Dominguinhos e Anastácia, “Preciso Aprender a Só Ser” e “Essa é Pra Tocar no Rádio”.
“Gilberto Gil Ao Vivo - USP, 1973”, o terceiro CD do Box, traz uma apresentação histórica, gravada na Universidade de São Paulo em maio daquele ano. Gil foi convidado por estudantes para se apresentar na universidade após a morte de um estudante, que fora torturado e morto pela repressão. Em uma sala de aula, acompanhado só de seu violão, Gil tocou e conversou com os alunos durante três horas, sucessos seus e também, a pedido da plateia, uma música nova, parceria com Chico Buarque e proibida pela censura,“ Cálice”. A gravação desse show chegou a estar disponível de forma não oficial pela internet a fora e agora é finalmente oficializada nesse Box.
Um dos melhores e maiores lançamentos do selo Discobertas nos últimos tempos, “Gilberto Gil Ao Vivo (Anos 70)”, é um excelente acréscimo na extensa discografia de Gil, trazendo aos ouvidos dos fãs e do público em geral um momento ímpar na carreira do artista que musicalmente sempre esteve inquieto, e que sempre faz do palco, ao vivo, um momento de comunhão entre artista, plateia e a música. Completamente Fundamental.