Por Anderson Nascimento
Ao longo de sua carreira solo, Arnaldo Antunes vem alternando entre discos pop e outros nem tanto. Partindo desse princípio, no início, Arnaldo optou pelo experimentalismo com o projeto "Nomes", fazendo posteriormente canções mais populares como "O Silêncio" do disco homônimo e "Música para Ouvir" do disco "Um Som". O auge de sua produção pop pode ser encontrado no excelente "Paradeiro", de onde Arnaldo partiu para os próximos dois álbuns - "Saiba" e "Qualquer" - de teor minimalista instrumentalmente e melodicamente falando.
Em "Iê, Iê, Iê" Arnaldo traz o pop de volta, só que desta vez (e pela primeira vez), apostando no ritmo que dá nome ao disco e que fez parte do início de sua carreira com a sua antiga banda, em canções que parecem saídas diretamente dessa época. Dessa forma, o novo disco de Arnaldo Antunes consegue captar a energia e a magia daqueles áureos tempos, que só quem já ouviu o disco pode descrevê-la. Em meio a tudo isso, o álbum ainda por cima consegue ser saudosista e moderno ao mesmo tempo.
Canções extremamente originais dão esse toque moderno ao disco, isso fica bem claro na bem humorada "Invejoso", onde Arnaldo descreve um convicto e honesto homem invejoso. Já em "O que você quiser", Arnaldo não economizou clichês, seja no instrumental, letra e até na interpretação, para fazer a faixa soar como se feita nos anos 60, chega dá para imaginar o próprio Roberto Carlos (fase Jovem Guarda) cantando. Assim também é "Sim ou não" construída ao longo de toda uma atmosfera retrô.
Canções com os Tribalistas (Marisa Monte, Carlinhos Brown e o próprio Arnaldo) também estão lá com suas peculiares letras. "Iê, iê, iê", que abre e dá nome ao disco, é uma das grandes canções do álbum, empolgante, deve funcionar muito bem ao vivo. "Vem Cá", a outra faixa Tribalista do álbum também agrada, principalmente pela interpretação sensacional de Arnaldo.
Interessante também é a leveza de faixas como "A casa é sua", de linda melodia - um órgão empresta toda a sua ternura ao longo da faixa - e letra que chega dá vontade de se apaixonar novamente. Essa leveza também é sentida quando Arnaldo trata de temas não tão ortodoxos como a inveja, o envelhecimento e o machismo, questões tratadas de forma simples nas canções, como podemos perceber em "Sua Menina". Só não deu mesmo pra entender o porquê a canção "Meu Coração" não ficou como a última faixa do disco, pois ela tem toda essa pinta.
Arnaldo Antunes acertou mais uma vez, lançando um dos melhores discos de sua carreira, mostrando que um artista é um artista independente do estilo. A capacidade dele de se reinventar é algo brilhante e louvável.