Por Anderson Nascimento
Mesmo com uma boa coleção de inéditas, o último álbum de Arnaldo Antunes, “Disco” (2013), carecia de um conceito ou de uma coesão no repertório já que compilou uma série de singles que foram sendo lançados mensalmente no site do artista. Em seu novo disco, “Já É”, 17º de sua carreira, não há explicitamente um conceito central, embora as faixas pareçam dialogar sobre temas como amor e separação, o que acaba compensando a falta de coesão do trabalho anterior.
O início do álbum é muito bom, abrindo com um clima pra cima com a alegre “Põe Fé Que Já É”. A sequência traz a ótima “Antes”, canção típica de Arnaldo, com um conceito que vai sendo martelado ao longo da canção que, aliás, possui um instrumental sensacional capaz de passar uma atmosfera de tensão na canção. Isso também ocorre em “Dança”, outra faixa que parece mirar no passado fonográfico do artista.
“Naturalmente, Naturalmente” resgata um clima praieiro e, até certo ponto, bucólico. Ao longo do álbum há várias reminiscências sonoras ao passado do artista, um desses casos é a boa “Se Você Nadar”, canção que tem levada que a faz parecer uma sobra de “Iê Iê Iê” (2009). Nessa linha há também a indefectível participação da amiga e parceira Marisa Monte, que dá uma canja em forma de dueto na canção “Peraí, Repara”, faixa de certa forma tediosa, bem abaixo do que a dupla costuma produzir.
Arnaldo percorre diversos ritmos no decorrer do disco, em “Só Solidão” há um flerte com Samba, em “Óbitos”, há uma batida Reggae que é ornada com riff roqueiro. E por falar em Rock, “O Meteorologista” e “Fissura”, são os representantes do ritmo no disco. Já “Saudade Farta” é minimalista, chegando a roçar uma levada de Bossa Nova. Da mesma forma “As Estrelas Sabem” também segue minimalista, embora haja um bonito acompanhamento musical com piano e violoncelo.
Com 15 canções ao longo de 54 minutos, o disco acaba se tornando longo e, de uma forma mais prática (e fria), ele poderia muito bem ter se encerrado na faixa 12, o já citado (bom) Rock “Fissura”, já que as três últimas canções não são a melhor forma de encerrar um disco. De qualquer forma, o álbum traz um punhado de boas canções, mas está bem distante de trabalhos como “Paradeiro” (2001) e, mais recentemente, “Iê Iê Iê” (2009).