Por Valdir Junior
Depois do instigante e libertador CD “Recanto”, álbum que reafirmou a importância de Gal Costa como uma das grandes cantoras brasileiras, e que também foi responsável por reinventar seu som a partir de uma sonoridade eletrônica de atitude Rock and Roll, a cantora conseguiu aproximar seu trabalho do público jovem, fazendo ao mesmo tempo uma conexão enviesada com seus discos da fase tropicalista. Os shows do álbum que resultaram o também ótimo “Recanto Ao Vivo” são uma prova disso.
“Estratosférica” é o vigésimo nono álbum de estúdio de Gal, produzido por Moreno Veloso e Kassim, tem como núcleo duro os músicos Guilherme Monteiro (guitarra), Kassim (baixo. Programação), André Lima (teclados) e, da Nação Zumbi, Pupillo (bateria), entre outras participações. Aqui Gal grava composições de uma nova geração de compositores que vem se destacando nos últimos anos como Marcelo e Thiago Camelo, Céu, Lira, Criolo e Mallu Magalhães, e ao mesmo tempo gravando compositores consagrados como Caetano, Marisa Monte, Milton Nascimento e Tom Zé, Gal acerta em cheio fazendo um álbum coeso, forte e arrojado.
Logo no início somos arrebatados com a guitarra roqueira de “Sem medo nem esperança”, música com letra forte e diretamente ligada ao canto de Gal, o som do órgão de André Lima nessa faixa remete um pouco ao álbum “LeGal” de 1970. “Jabitacá” com sua batida quebrada e leve psicodelia, traz o mesmo frescor do álbum anterior para este. A faixa título “Estratosférica” é bem alegre, dançante e lembra a Gal do inicio dos anos 80, com certeza nos shows vai fazer todos se soltarem e cantarem junto.
Uma das faixas que mais se destacam no álbum é “Espelho D’água”, música que Gal já vinha apresentando ao vivo no show intimista de mesmo nome que a cantora fez no segundo semestre de 2014, logo após o fim da turnê do disco anterior. “Espelho D’água” composta por Marcelo Camelo é uma balada pop, com letra e melodia pegajosas, que junto da voz de Gal, fazem da música uma pequena obra prima e hit certeiro do álbum.
As músicas “Por Baixo”, “Anuviar”, “Casca” e “Muita sorte”, com suas programações e mistura de batidas eletrônicas e percussão acústica, criam uma aura jovem, de urgência instantânea e dialoga diretamente com a música e o canto de Gal no álbum anterior. A única faixa que destoa do som vigoroso do disco é a faixa bônus “Ilusão a Toa”, música de Johhny Alf, gravada para a trilha sonora da novela da TV Globo “Babilônia”, apesar de ser uma boa música e ter um belo arranjo, foge totalmente da palheta sonora proposta por Gal nesse novo álbum.
Ao final da audição de “Estratosférica” fica confirmado a relevância da voz e do trabalho de Gal Costa no atual cenário musical no Brasil. Gal ultrapassa mais uma vez a zona de conforto que vinham mantendo em trabalhos anteriores e entrega um álbum que fervilha de fogo e paixão para cantar o novo. “Estratosférica” se destaca com louvor na discografia de Gal e com certeza vai encabeçar as listas dos melhores álbuns lançados em 2015.