Por Valdir Junior
A influência de João Gilberto sobre a música dos baianos Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé nunca foi segredo pra ninguém. Nesses anos todos foram diversas as reverências que os mesmos fizeram à obra, o cantar e o violão de João em seus trabalhos, ao mesmo tempo em que mestre da Bossa Nova também se rendeu aos seus discípulos gravando suas músicas e fazendo participações especialíssimas em alguns shows deles e vice versa.
Para Gil a influência de João foi tão grande, que quando ele o ouviu pela primeira vez no rádio, ainda na Bahia, trocou o acordem que tocava desde pequeno (influenciado por Luiz Gonzaga) por um violão. Aliás, a técnica e o som peculiar do violão de Gil, deve muito ao estudo que ele fez da maneira de João tocar.
Prometendo um disco dedicado ao Samba já há algum tempo, e no entender de Gil a bossa nova feita por João Gilberto é Samba, ele resolveu gravar músicas que fazem parte do repertorio de João para saldar essa promessa. Para isso passou mais de dois anos estudando e tocando as músicas, até que entre setembro e novembro de 2013 entrou em estúdio para registrar as faixas com produção de seu filho Bem Gil e de Moreno Veloso responsáveis por dar um toque “novo” e “fresco” ao som e o tratamento do álbum.
Com uma sonoridade orientada pelo violão e pela voz de Gil (ambos gravado ao mesmo tempo por ele) e também contando com a excelente e genial participação de Domenico Lancellotti na percussão e bateria eletrônica, num trabalho em que ele vem se destacando, como podemos ouvir nos últimos álbuns de Caetano, Gal e Adriana Calcanhoto. Também tocam no CD: Rodrigo Amarante, Nicolas Krassik, Pedro Sá, Mestrinho, Dori e Danilo Caymmi.
“Gilbertos Samba” nome que Gil deu ao CD, traz clássicos como “Aos Pés da Santa Cruz”, “O Pato”, “Eu Sambo Mesmo”, “Você e Eu”, “Tim Tim por Tim Tim”, “Doralice”, “Eu Vim da Bahia” - do próprio Gil que João gravou em 1973 -, e “Desde que o Samba é Samba” de Caetano, gravado por ele e Gil no álbum “Tropicália 2” e regravada por João no CD “João Voz e Violão” (2000), além, é claro, da imortal “Desafinado” uma das músicas mais associada a João Gilberto.
O CD apresenta também, além das músicas do repertorio de João Gilberto, duas faixas inéditas de autoria de Gil, a instrumental “Um Abraço no João” que remete e homenageia a música “Um Abraço no Bonfá”, música que João Gilberto fez em homenagem a Luiz Bonfá, e “Gilbertos” música que fala sobre a relação de mestres e aprendizes ao longo do tempo e cita Dorival Caymmi como um desses mestres.
“Gilbertos” é um dos melhores trabalhos de Gilberto Gil nos últimos anos, e ao lado do álbum em homenagem à Luiz Gonzaga “As canções de Eu, Tu, Eles” (2000), mostra a raiz e o pilar mestre de sua música. E mesmo que ele tenha se enveredado e flertado com outros estilos de música no decorrer da sua carreira, nunca deixou de colocar em prática o que aprendeu com a obra de João Gilberto e “Gilbertos” é a prova disso.