Por Guilherme Vasconcelos
The Number of The Beast- ‘’Se existe um Deus, por qual razão ele me deixa ir?’’
O ano era 1982. O Iron Maiden, maior expoente da New Wave of British Heavy Metal, passava por uma fase de transição. Perdera o único vocalista que até então havia se encaixado no estilo da banda e que com seu vocal agressivo gravou dois ótimos álbuns. Eis então que depois de testes e mais testes, entra em cena um dos mais aclamados vocalistas de todos os tempos: Bruce Bruce( oriundo do Samson e que mais tarde mudaria seu nome artístico para Bruce Dickinson, já que é um nome, digamos, menos bizarro e mais comercial). Com uma performance vocal soberba (até exagerada algumas vezes), com um carisma e uma teatralidade destacáveis, o Air Raid Siren (apelido do Bruce Dickinson) enfrentou dificuldades para se impor no início, visto que seu estilo- tanto no aspecto vocal quanto no carisma- era assaz diferente do seu antecessor Paul Di’anno. Mas nada que não fosse suplantado com o lançamento do The Number of The Beast.
Talvez o maior sucesso comercial da banda, a característica marcante desse clássico registro é a firmação do Maiden como uma típica banda de Heavy Metal. Explico: Nos dois primeiros cds (Iron Maiden e Killers, respectivamente) o grupo mesclava o punk tão em voga na época com umas pitadas de Heavy Metal, sendo, portanto, muito mais técnicos que as bandas punks. Já no The Number Of The Beast, o Maiden sepulta qualquer resquício de influências punks e mergulha definitivamente no estilo moldado pelo Black Sabbath, fato que atingiria seu apogeu de complexidade no Powerslave, de 1984. Foi ainda com o The Number of The Beast que a banda passou a ser reconhecida mundialmente.
O petardo começa com Invaders. Uma música frenética, furiosa e de ótimo refrão. Em suma: uma aula de doutorado de como se iniciar um cd. A seguir vem a cadenciada Children of The Damned, com uma performance que esbanja feeling por parte de Bruce Dickinson e com um esplêndido dueto da entrosadíssima dupla de guitarristas: Dave Murray e Adrian Smith.
The Prisioner é a música que se apresenta. Aqui o destaque fica para a criativa linha de bateria, para o gritante e cavalgado baixo de Steve Harris e para o bridge que realça destacavelmente o comercial refrão. Posteriormente, vem 22 Acacia Avenue, que nada mais é do que a continuação da história da prostituta Charlotte (pela qual Dave Murray se apaixonou, diz a lenda). Esta faixa peca pela futilidade lírica e pelo exagero na melodia vocal, o que a deixa monótona e cansativa.
Em seguida vêm as duas músicas que mais provocaram rebuliço na época: a faixa-título e Run To The Hills. A primeira, que versa acerca do satanismo, recebeu severas críticas dos infames fanáticos religiosos norte-americanos por uma suposta apologia à doutrina mencionada. Ora, se eles fazem calorosas apologias ao catolicismo, por qual razão, numa sociedade que se vangloria pelo elevado grau democrático, não é permitido tratar de uma religião igual às outras? No fundo, esse episódio só serviu para promover o crescente nome da banda e para alavancar as vendas. Já Run to The Hills critica o genocídio indígena oriundo da povoação estadudinense na América do Norte e também foi vítima dos detratores religiosos. Musicalmente são clássicos absolutos. Os destaques principais ficam por conta da belíssima teatralização do Dickinson na faixa-título e da inspiradíssima linha de bateria de Run To The Hills, que chega a emular uma cavalgada.
Na parte final, tem-se Gangland, Total Eclipse e Hallowed be Thy Name. A primeira se destaca pela criativa introdução de bateria, pelo empolgante refrão e pela ótima alternância vocal do quase perfeito Bruce Dickinson. Já Total Eclipse é uma música que só foi inserida no álbum na década de 90 e é, portanto, mediana e destoa do restante do registro. Por fim, vem simplismente a melhor música da Donzela de Ferro em todos os quesitos. Desde a emocionante letra- sobre as angústias, incertezas e frustrações de um homem prestes a morrer- até o intrincado instrumental, passando pela aula de interpretação conferida pelo Air Raid Siren. Um desfecho trágico. Melancólico. Intringante. Um desfecho genial para o disco que projetou uma das mais influentes bandas de Heavy Metal.
OBS 1: O Iron Maiden é a banda preferida do autor.
OBS 2: Bruce Dickinson é o vocalista preferido do autor.