Depois do estrondo ocorrido na década de 50 nos Estados Unidos, o rock n' roll tomava de assalto a nau da popularidade e preparava-se, na década seguinte, para atravessar o atlântico e aportar na terra da eterna Rainha.
Logo, garotos advindos de Liverpool davam os primeiros passos na construção de um som único e de uma imagem apaixonante. A cada single, os Beatles eram mais amados e alçavam, gradativamente, um status elevadíssimo. Eram mais populares que Cristo, como bem observou o jovem Lennon.
No meio desde universo, em 1964 surgia o primeiro álbum de uma banda que se proporia a ser um contraponto a tudo isto. Assim, na mentalidade da maioria dos jovens sessentistas formou-se um paradigma que seria extenuado apenas nos anos 70: os Beatles eram bons; os Rolling Stones eram maus.
Tão importante quanto o encontro de John e Paul, o primeiro disco dos Stones representa um grande passo na sonoridade e no modo de se fazer rock n' roll. mas, em um primeiro momento, o "primo" disco do grupo se consubstanciou em uma grande incógnita, que ia desde a capa do álbum (que não oferecia nenhuma menção à banda, apenas uma foto da mesma), até as próprias faixas que o compunham, em sua grande parte formada por versões de canções de impacto na época, com exceção de "Tell Me (You're Coming Back)".
Os "historiadores" que se dedicaram ao estudo dos Stones, como Richard Greenfield, indicam que a escolha das covers deu-se pelo desagrado de Richards e Jagger com suas composições na época. Embora seja forçoso crer que tal dupla tenha sofrido ao compor, quiçá tal fato seja verdadeiro, e mais: ele acabou por delinear o modo "stones" de tocar, pegando o blues e acelerando-o ao máximo.
É deste jeito que grande parte dos ouvintes interpreta a performance de "I Just Want To Make Love To You", clássico de Willie Dixon e eternizado na voz de Eta James, pérolas que os Stones auxiliaram a lapidar.
Outros destaques indiscutíveis são "Carol", de Chuck Berry e "Mona (I Need You Baby)" de autoria de Ellas McDaniel.
Muito embora este disco seja o que é por representar o primeiro trabalho de uma das maiores bandas da história, "Rolling Stones" traz uma indubitável sonoridade, dotada de uma salutar e vigorosa solidez. Se o mundo mudou a partir dos anos 60, a trilha sonora desta revolução tem, em sua parte, canções deste disco, um dos mais influentes da época.