Por Valdir Junior
Após muita espera e uma década depois de “A Bigger Bang” (2006), seu último álbum de estúdio, os Rolling Stones lançam “Blue & Lonesome”, um disco em que voltam aos seus primórdios, com regravações de doze, quase obscuros, blues de Chicago, onde muito mais do que homenagear aos seus heróis e mestres como: Muddy Waters, Hollin’ Wolf, Little Walter, Willie Dixon e Magic Sam, a banda, despida de egos e sem excessos, se reinventa, mostrando uma energia e garra surpreendente, fazendo o que sabem de melhor, e se concentrando no que interessa, a música.
Gravando num período de três dias em dezembro de 2015, durante o aquecimento para o que pode ser uma possível sessão de gravação de um futuro novo álbum de inéditas e produzidas pelos Glimmer Twins (aka: Mick Jagger e Keith Richards) e Don Was, “Blue & Lonesome” é o disco que ninguém mais esperava que os Stones fizessem e mostra que Jagger, Richards, Watts e Wood ainda tem muito lenha para queimar e muita estória para contar.
Querer comparar “Blue & Lonesome” com os primeiros discos dos Stones, é besteira e desleal com eles mesmos, pois há cinquenta anos, eles não passavam de um bando de moleques brancos, cheios de testosterona, apaixonados pelo blues, sonhando com fama e dinheiro, hoje, eles são ricos senhores septuagenários, experimentaram a vida em todos seus limites, cantaram a insatisfação e a sua simpatia pelo tinhoso e pediram para que o bom Deus nos iluminasse, mas sofreram e sentiram o verdadeiro Blues, tão real quanto o tocado pelos seus velhos mestres, o que faz de “Blues & Lonesome” é um verdadeiro disco de blues, tocado por mestres do mesmo.
O Grande destaque do disco é Mick Jagger, que canta e toca a harmônica com uma vontade e uma urgência do fundo de sua alma, em faixas como: "I Gotta Go", "Blue & Lonesome", "Just Your Fool" e "Hoo Doo Blues", que até esquecemos alguns erros musicais que ele cometeu em sua carreira solo, assim como o seu incessante desejo de querer ser o Peter Pan da musica pop.
Vale lembrar que nos primeiros discos dos Stones quem geralmente tocava a harmônica era o falecido Brian Jones, mas no decorrer dos anos Jagger tocou harmônica em faixas como “Midnight Rambler” e ‘Love Is Strong” entre outras.
Ronnie Wood e Keith Richards mantêm a já habitual parceria guitarrista tinindo com o entrelaçamento de guitarra solo e base em texturas sonoras cruas e intensas para faixas como: "Commit a Crime", "Ride 'Em On Down", "All of Your Love", assim como para as demais faixas do disco. Eric Clapton toca em duas faixas, "I Can't Quit You Baby" e "Everybody Knows About My Good Thing", mas sua guitarra é mera coadjuvante perante as de Richards e Wood. Charlie Watts e Daryl Jones, baixista contratado dos Stones nos últimos vinte dois anos, são a cozinha perfeita e concisa, não deixam a peteca cair em momento algum e ainda dão o groove necessário para fazer a maquina dos Stones girar e seguir em frente.
Com um pouco mais de meia hora de música “Blue & Lonesome” é completamente viciante e quase impossível tirá-lo do som, após varias audições do álbum constatamos que mesmo “Blue & Lonesome” sendo um álbum de covers, os Stones entregam com ele o seu melhor trabalho em anos, colocando-o lado a lado com os grandes clássicos de sua discografia e fazendo dele um dos grandes lançamentos de 2016. O álbum também nos deixa sedentos e curiosos demais em saber que tipo de material inédito venha a partir dessa volta as raízes da banda, por enquanto só nos resta cruzar os dedos e aguardar, até lá, para este disco fica valendo aquela máxima que os próprios Stones criaram lá atrás em 1969 para o álbum “Let It Bleed”: This Record Should Be Played Loud” (Este Disco Deve Ser Ouvido No Volume Maximo). Divirta-se e se esbalde no blues dos Stones.