Por Anderson Nascimento
Sem dúvida um dos melhores trabalhos lançados no ano de 2019, “Everyday Life” flagra a banda britânica em um momento de experimentação musical que tende a World Music, passeando por ritmos e instrumentos pouco difundidos na cultura ocidental. De acordo com a banda, o disco é sobre “como sentimos as coisas”, e esse conceito é dividido em dois discos, chamados de “Sunrise” e “Sunset”.
O disco um, “Sunrise”, traz faixas mais introspectivas, entre momentos instrumentais (“Sunrise”), diálogos entremeados com músicas (“Trouble in Town”), e canções que flertam com a musicalidade oriental, caso de “Church”, que traz coros que vão lembrar cânticos árabes.
Em outro momento marcante há “BrokEn”, emocionante faixa gospel que mostra um Coldplay como você nunca esperou ver (ou ouvir), da mesma forma que o fazem em “When I Need a Friend”, que encerra o disco um apresentando arranjo que vai lembrar os hinos religiosos. Já em “Arabesque” a levada Soul impressiona e joga um pouco de luz nesta sombria primeira parte do disco.
O disco dois traz alguns dos melhores momentos deste novo trabalho, iniciando com “Guns”, uma balada nervosa ao violão que fala sobre as pessoas e os loucos tempos em que vivemos. Destaca-se também “Cry Cry Cry”, uma das melhores do disco, que traz arranjo que simula canções dos anos 40 e, apesar de não ser explicitamente um single, deverá ser canção de trabalho do grupo na nova turnê.
Carregado de emoção, o disco passa pela África em “Éko”, e encerra com as belíssimas “Champion of The World”, talvez a melhor faixa de todo o disco, e o single e faixa título “Everyday Life”.
O álbum não é de tão fácil digestão como em outros momentos mais populares, onde a banda direcionou seu trabalho para hits e canções mais fáceis, por outro lado é um dos discos mais abrangentes e desafiadores de todos os oito álbuns de estúdio lançados até então pela banda.
Neste disco, mesmo os singles não têm aquele apelo como os hits arrasa-quarteirões que o grupo está acostumado a fazer e, dentre os três singles pinçados do álbum (“Orphans”, “Everyday Life” e “Daddy”), “Orphans” é a que mais se destaca, principalmente pelo seu côro, que certamente será momento alto nas apresentações ao vivo da banda a partir daqui.
“Everyday Life” é um daqueles discos que devem ser consumidos sem pressa e com muita atenção, de preferência com o encarte com as letras das faixas a tiracolo. Trata-se de um dos melhores trabalhos do grupo.