Por Valdir Junior
Mesmo depois de quarenta e seis anos da morte de Jimi Hendrix, sua música e sua técnica na guitarra, continuam a maravilhar as pessoas, se antes, no final da década de 1960, reagiam com assombro e perplexidade diante do som que aquela figura, agora, mítica, tirava de sua guitarra elétrica, hoje menos perplexos e mais reverentes, continuamos na busca de entender, cada nota, frase, solo, harmonia e gravação que Hendrix fez naqueles quatro anos e meio em que, sem sombra de dúvida, era o maior guitarrista vivo na face da terra.
Cavucando mais fundo nos arquivos deixados por Jimi chega agora “Machine Gun: The Fillmore East First Show”, gravação do primeiro dos quatros shows que Hendrix ao lado de Billy Cox no baixo e Buddy Miles na bateria, fez no Fillmore East de Bill Graham, na véspera do ano novo de 1970. Os mais ligados na discografia de Hendrix, sabem que uma parte desses shows resultou no disco “Band of Gypsys”, primeiro disco ao vivo de Hendrix e o último lançado por ele em vida.
Depois de readquirir os direitos por toda a obra de Hendrix, sua família vem explorando cada vez mais o legado do guitarrista, lançando e relançando periodicamente sua música. No caso de “Machine Gun: The Fillmore East First Show”, o material desses shows no Fillmore serve de base para mais um lançamento. Em 1998 a família de Hendrix já havia lançado “Live at the Fillmore East”, um CD duplo que traz outras faixas tocadas naquelas quatro apresentações e também novas performances das músicas presentes em “Band of Gypsys”, e em 2010 outras gravações desses shows apareceram no Box “West Coast Seattle Boy: The Jimi Hendrix Anthology”.
Como o próprio título diz, o diferencial do “novo” CD é que se trata da gravação do primeiríssimo show daquela noite de 31 de dezembro de 1969, e para ressaltar isso, a gravadora publicou um infográfico nas redes sociais, destacando, dentre todas as gravações lançadas até agora, em que apresentação cada faixa foi tocado, justificando o ineditismo de “Machine Gun: The Fillmore East First Show”. Das onze faixas, apenas três, "Lover Man", "Ezy Ryder" e "Bleeding Heart" de Elmore James, aparecem pela primeira a vez, oficialmente, em gravações desses shows.
Musicalmente falando esses shows do Fillmore, são um marco na música de Hendrix, mostrando a aproximação do seu rock com o funk e a direção musical que ele pretendia seguir. Especificamente nesse primeiro show percebemos um Hendrix mais à vontade, estraçalhando no som de sua guitarra, junto à bateria soul-funkeada de Buddy Milles e do baixo preciso de Billy Cox em petardos como “Power of Soul”, "Machine Gun", "Earth Blues”, “Stop” e "Hear My Train A Comin'".
Apesar da bonita embalagem, do ótimo som do álbum, produzido pelo mestre Eddie Kramer e da importância histórica desse primeiro show, “Machine Gun: The Fillmore East First Show” deixa uma sensação de mais do mesmo para quem já conhece toda a discografia de Hendrix, mas é uma ótima entrada para os novos e curiosos ouvintes que queriam redescobrir a música de Jimi Hendrix. No entanto, não deixa de ser um item obrigatório, nas estantes dos fãs.