Por Anderson Nascimento
- Ringo Starr, ele canta? É o que pode estar pensando o mais desavisado leitor, e para a surpresa de muitos aí vai a resenha do décimo quinto(!) álbum de estúdio do baterista daquela banda lá de Liverpool, isso sem contar com os sete álbuns ao vivo de sua atual banda "All Starr Band".
Ringo Rama é o sucessor do magnífico álbum "Vertical Man" (não levando em consideração o disco natalino), e é tão grandioso quanto o "Vertical". Alguns já o consideram o melhor álbum da carreira do ex-Beatle. Exageros ou não, este álbum consolida um time que já vem ganhando há muito tempo, e que já produziu junto com Ringo quatro discos.
Ringo passou por vários momentos distintos em sua carreira musical (o mesmo também trabalhou um bom tempo como ator de cinema), no início de sua carreira solo, após o fim dos Beatles, Ringo lançou um álbum de Standarts e outro de Blues, para só então voltar ao Rock'n'Roll quando lançou o seu mais bem sucedido álbum intitulado "Ringo", álbum de 1973 que conseguiu reunir os Beatles em participações especiais no mesmo disco. A partir daí, seus álbuns sempre foram recheados de muito Rock'n'Roll e participações especiais.
A fase seguinte, mostra um Ringo mergulhando de cabeça em um estilo mais pop e dançante, que predominou no fim dos anos 70. Nos anos 80 Ringo lançou dois bons álbuns e posteriormente montou a sua famosa "All Starr Band" que anualmente percorre vários países fazendo shows memoráveis e contando com figuras lendárias do Rock como Gary Brooker, Billy Preston, Peter Frampton, Roger Hodson, Colin Hay, só pra citar alguns.
Nos anos 90, Ringo deu uma guinada em sua carreira, voltando a estar de frente na mídia com sua banda e com sua nova fase ainda mais voltada para o Rock'n'Roll. Se o "Vertical Man" já era um disco com um certo peso, "Ringo Rama" fecha ainda mais a banda e as músicas para o Rock. Isso já é percebido na primeira faixa, "Eyes to Eyes" que abre o disco escancarando tudo e mostrando que o time não está ali para brincadeira.
"Misouri Loves Company" conta com uma melosa guitarra de David Gilmour (Pink Floyd) para fazer um Rock melódico ao extremo. "Instant Amnesia" chega humilhar com o particular show de Ringo Starr na bateria, casando com uma guitarra nervosa, além de destacar também a sua brilhante interpretação vocal. “Memphis in your mind” é outro rockão que fala sobre o rock propriamente dito, com direito à samplers com a voz “exumada” de Roy Orbinson.
Depois disso o disco abre espaço para duas baladas em homenagem aos dois outros Beatles falecidos. Na primeira música, "Never Without You", Ringo fala sobre seu amigo recém falecido George Harrison, utilizando uma bonita melodia com direito a participação do grande amigo de Harrison, Eric Clapton. Esta música aliás tocou bastante lá fora na época do lançamento, o que levou Ringo à inúmeros programas de Tv. Na segunda música, também com participação de Eric Clapton, "Imagine me there", Ringo faz uma homenagem igualmente bacana à John Lennon, utilizando-se de uma letra surpreendentemente linda, mostrando enfim o quanto o baterista evoluiu como compositor. Antes que eu me esqueça de falar, Ringo Rama é um disco completamente autoral, possuindo quatorze músicas escritas pelo próprio Ringo, em parceria com o pessoal da banda.
I Think Therefore I Rock And Roll retoma o clima pesado do disco trazendo novamente a guitarra de David Gilmour em um rock frenético e dançante. “Tripping On My Own Tears” lembra a fase do início dos anos 80 de Ringo, é um rock super festivo de refrão pegajoso e impregnante. "Write On For Me" traz a participação do rei do Country Willy Nelson, e resgata o flerte de Ringo com o estilo em um misto de Blues e Country.
A seguir o disco traz as baladas "What Loves wants to be", destaque para a bela letra e "Love First and Question Later" com direito a melotron e fortes características sessentistas. A baba “English Garden”, já era de se esperar, visto que Ringo sempre grava uma música em homenagem à sua esposa. Falando em baba “Elizabeth Reigns” é uma babação de ovo em homenagem ao jubileu da Rainha da Inglaterra, mas feita em alto estilo com super produção da equipe com direito a orquestra e tudo.
No fim o disco traz uma surpresa, trata-se de “I Really Love Her”, uma música curiosa na carreira de Ringo que pela primeira vez em toda a sua carreira toca todos os instrumentos da música. Bacana!
O disco em sua edição original, foi lançado com um dvd bônus contendo um imperdível "making of" da gravação do cd, incluindo comentários do próprio Ringo, dos músicos e dos produtores do disco, além das imagens das sessões. No Brasil, o disco foi lançado simples, sem o dvd bônus. E recentemente saiu também no exterior uma versão do mesmo álbum contendo dois dvds e um cd com três músicas a mais.
É um disco que se você não quer comprar, deveria ao menos ouvir para atestar tudo o que eu estou falando.