Por Anderson Nascimento
Baladinha no violão, coros e, até certo ponto, uma levada que remete ao Rock inglês. É dessa maneira que o Green Day inicia “Somewhere Now”, faixa de abertura de seu 12º álbum de estúdio, “Revolution Radio”.
Apesar da capa e do explosivo single “Bang Bang”, o disco é uma grande viagem Pop. Não que isso desmereça esse belo trabalho, mas a leitura da capa e a história da banda nos faz imaginar algo diferente para esse trabalho.
O próprio Billie Joe afirmou recentemente que o disco era o fruto do confuso cenário social que os Estados Unidos passam: um conturbado processo de sucessão na presidência, atiradores em massa, terror, manifestações e questões raciais reacesas. Canções como “Troubled Times”, uma das melhores do álbum, e a balada confessional “Ordinary World” são as mais expressivas nesse quesito.
O vocalista da banda também passou por um período difícil em sua vida pessoal, sendo necessária inclusive uma internação em 2012 para tratamento contra a sua dependência em álcool, o que levou ao Green Day a uma série de cancelamentos de shows e à divulgação inadequada da trilogia “Uno, Dos, Trés” (2012).
Musicalmente, mesmo quatro anos após o lançamento da trilogia, aquela sonoridade mais branda ainda reverbera fortemente nas novas canções da banda. Talvez o problema da pouca exposição dos últimos discos tenha impedido o fechamento do ciclo. A boa faixa título do álbum é um grande exemplo disso.
Entre as principais canções está o single “Bang Bang”, faixa estourada nas plataformas digitais, que se assemelha com o som do grupo feito em “Dookie” (1994). O grupo também capricha nas melodias: “Say Goodbye” é moderna, chega a lembrar o U2 atual nos côros; “Forever Now”, tem bom refrão e melodia marcante.
Uma das canções mais festejadas pelo grupo é o single “Still Breathing”, que assustadoramente lembra o pseudo-punk-pop do Good Charllote, que muitos chegaram a comparar como uma cópia barata do Green Day. Apesar de ser uma boa canção, a faixa não tem absolutamente nada a ver com o Green Day.
No geral, o grande mérito do disco é a vontade de ouvi-lo novamente quando ele chega ao fim. E nesse quesito canções como “Youngblood” fazem jus a isso, pois, apesar de boba, é ao mesmo tempo contagiante, despojada e deliciosa. Difícil não ser atingido por ela.
Sem dúvida o disco vai receber alguns comentários menos elogiosos, mas enquanto álbum “Revolution Radio” merece ser encarado de maneira honesta e imparcial, sem levar em conta o passado mais pesado e agressivo do grupo.