Por David Oaski
O Pearl Jam já é uma banda clássica de rock. Com o distanciamento histórico de 22 anos do petardo “Ten”, de 1991 já é possível fazer essa afirmação com segurança.
A banda, que foi um dos pilares do movimento grunge, construiu ao longo dos anos uma discografia sólida e repleta de talento, sempre com a veia roqueira aflorada, mas se permitindo flertar com folk, blues e o pop.
Outros fatores fazem com que o Eddie Vedder, Stone Gosard, Jeff Amment, Mike Mcready e Matt Cameron formem uma das bandas mais respeitáveis do rock atual, como a eterna briga com a Ticket Master pelo valor abusivo cobrado pelos ingressos dos grandes shows; a variedade do setlist nas apresentações da banda é invejável, longe da preguiça e obviedade de outras bandas; além disso, a banda sempre buscou caminhar com suas próprias pernas, não se dobrando à exigências de gravadoras, rádios, Mtv e todos outros dinossauros que comandam o show business.
Com o lançamento de “Lightning Bolt”, décimo álbum da banda cerca de um mês atrás, os norte americanos de Seattle mostram que seguem afiados nas composições, entrosados como banda e que são sim relevantes e importantes no rock atual.
Há um pouco de tudo que o Pearl Jam já fez de melhor ao longo da carreira, com canções rock típicas dos álbuns recentes da banda, com boas linhas de guitarra e refrãos marcantes, abrindo com classe com a vigorosa “Gettaway”, um rockão pra levantar defunto, com vocais impecáveis de Vedder e a banda dando show na melodia. Potencial de single. Ainda nessa categoria estão “My Father’s Son”, outra ótima letra, com destaque para linha de baixo de Jeff Amment numa canção robusta, com variação no andamento em determinado momento, voltando ao tom raivoso noutros; e “Lightning Bolt”, a faixa título, inicia com rápidas linhas de guitarras e vocais e vai encorpando, com direito a um refrão delicioso e ótimo solo de guitarra.
Outra característica marcante no som da banda são as baladas e desta vez os destaques são a belíssima “Sirens” e “Sleeping By Myself”. Ambas possuem melodias delicadas, sendo que a primeira tem uma letra melancólica que trata de um desamor com piano, violões e suaves linhas de guitarra, com um belo solo, já a segunda é tão folk que parece que Eddie Vedder está tocando na varanda de uma fazenda, com violão e guitarra entrelaçados formando uma linda e singela canção.
A agressividade quase punk de “Mind Your Manners”, que possui letra com mensagens políticas e critica ao modo de vida americano contrasta com o intimismo de faixas como “Yellow Moon” e “Future Days” que lembram trabalhos solos de Vedder, com melodias mais introspectivas.
“Swallowed Whole” tem passagens de folk, vira rock, volta a ser folk e assim vai até o final, com melodia cativante e outro bom solo de guitarra. Já “Let The Records Play” é o toque de blues do álbum, num som que me remete a algo como o Black Keys, só que mais pesado, tem talvez o melhor solo de guitarra do álbum. Há espaço ainda para a densidade de “Pendulum”, arrastada e soturna possui uma beleza fúnebre.
Diferente de tudo que a banda já fez até hoje, “Infalible” soa como uma marcha com pitada folk. Somam à melodia piano, coros, castanholas e instrumentos de percussão, música típica de uma banda que não se acomoda nem se apega a formulas manjadas. O resultado é ótimo.
Quem ouvir “Lightning Bolt” esperando um arremedo de “Ten” ou “Vs” certamente sairá decepcionado, pois ao contrário de outras bandas o Pearl Jam se permitiu evoluir, mesmo não se distanciando do ritmo fundamental de sua música, o rock n’ roll. Se pararmos pra pensar friamente quais bandas ainda entregam ao seu público um ótimo disco de rock, sem pressão ou pretensão? São poucas.
O que os caras do Pearl Jam querem é curtir um som, tocar um rock aqui, um folk ali, uma pitada de blues acolá e apresentar um dos melhores shows da atualidade. É assim, dessa forma que eles entregaram um dos melhores disco do ano.