Por Valdir Junior
Esta é a trilha sonora para o filme-documentário, produzido e dirigido por David Grohl que conta a historia do “Sound City Studios” de Los Angeles, estúdio em que foi gravado discos como: “Nevermind” (Nirvana), “Amorica” (The Black Crowes), “Death Magnetic” (Metallica), “Damn the Torpedoes” (Tom Petty and the Heartbreakers) e “Lullabies to Paralyze” (Queens of the Stone Age), entre outros.
O filme é uma declaração de amor de Grohl ao estúdio e a “mesa” de gravação “Neve 8028” usada no estúdio e grande responsável pelo som que os discos gravados lá tinham. Acaba que também se torna uma ode de amor à musica como um todo e também ao Rock and Roll. Grohl comprou a mesa de gravação quando o estúdio fechou em 2011 e a instalou em seu próprio estúdio, o “Studio 606” localizado na garagem de sua casa em Los Angeles.
No decorrer do documentário, vários artistas que passaram pelo Sound City dão seu depoimento, cheios de emoção sobre uma época em que fazer e viver de música era ato de sobrevivência e também de tentar alcançar o limite da experiência de criar com todo o coração. Aproveitando o momento, David Grohl levou alguns deles e mais alguns amigos para seu estúdio, para que a mesa Neve fosse usada também para criar a música do filme.
Com David Grohl presente em todas as faixas do CD, tocando bateria, guitarra, cantando e fazendo os backing vocals, o que temos são 11 músicas feitas de forma espontânea e totalmente em parceria com os músicos que participam de cada faixa, e mesmo que em certos momentos lembrem muito a sonoridade dos Foo Fighters, mesmo porque os colegas de David Grohl participam juntos ou separados das faixas, a presença de outros músicos faz disso um diferencial na forma e na condução das músicas.
O CD abre com a bombástica "Heaven and All" que tem a presença de Robert Levon Been e Peter Hayes (ambos do Black Rebel Motorcycle Club). "Time Slowing Down" é uma das faixas mais legais do CD, cheia de climas e texturas, com riff bem pesado de guitarra e vocais viajantes de Chris Goss (vocalista do Masters of Reality), aliada a “cozinha’ certeira do Rage Against the Machine (o baixista Tim Commerford e o batreista Brad Wilk), com David Grohl na guitarra, literalmente “não deixando pedra sobre pedra”, é um inteligente cruzamento de experiências e pegadas dos quatro músicos.
"You Can't Fix This" traz Stevie Nicks, ex-Fleetwood Mac (eles também gravaram no Sound City Studios) nos vocais e Taylor Hawkins do Foo Fighters na bateria, esta é uma faixa com clima de blues-bar de estrada, melancólico, e lembra muito o trabalho de Stevie no Fleetwood Mac. "The Man That Never Was" é outro grande hit do CD, com seu riff gritante e pegajoso de guitarra e letra irritada, tem o vocal pra lá de enérgico de Rick Springfield e tem o Foo Fighters inteiro servindo como banda de apoio para ele. No final não tem como não ficar com essa música na cabeça de tão legal que é.
"Your Wife Is Calling" com Lee Ving da banda Fear nos vocais e “Mantra” com Josh Homme e Trent Reznor, são as duas faixas “menos interessantes” da trilha, mas o que talvez pese mais contra elas é a presença de faixas mais fortes e vibrantes no resto do CD. Uma delas é “A Trick With No Sleeve" com os vocais de Alain Johannes, impossível não sair cantando, ela é puro “chiclete”, além é claro das guitarras muito bem tocadas por Josh Homme e de David Grohl colocando seu lado “animal” para detonar a bateria.
Mas a faixa mais impressionante de todas é também “a cereja desse CD”, é a improvável, incrível e inusitada parceria de Sir Paul McCartney com os membros remanescentes do Nirvana (Krist Novoselic, Pat Smear e, é claro, David Grohl) em "Cut Me Some Slack", puro stoner rock com um ‘Q’ de Helter Skelter, e ainda tem o “velho Macca” arrebentando no slide no Dobro (feito com caixa de charuto).
A acústica e confessional "If I Were Me" com David Grohl nos vocais e velho amigo dos Beatles, o baterista Jim Keltner, na percussão, é outra que está entre as melhores desse maravilhoso CD, que apesar de não ser propriamente uma “trilha sonora” no sentido de ter temas ligados ao roteiro do filme-documentario, funciona muito devido a ligação dos músicos entre em si, com a historia do estúdio (e da mesa Neve 8028). Com certeza um CD que não pode faltar na coleção, assim como o DVD do filme.