Ao ler o livro “Teletema – A História da Música Popular Através da Teledramaturgia Vol. 1 – 1964 A 1989”, que você pode conferir a resenha
aqui, o leitor tem a vontade de revisitar cada trilha sonora de novelas e séries lançadas no Brasil descrita em suas centenas de páginas. E para matar essa vontade, mesmo que em sua forma mínima, a Som Livre lança o CD de mesmo nome do livro com músicas que atraem os mais saudosistas e também, curiosos de uma boa trilha musical que queiram conhecer o que era sucesso nas tramas de “1900 e antigamente”.
Para começar o repertório, “Teletema” por Regininha e Laercio, tema da primeira novela “moderna” da Rede Globo, “Véu de Noiva” de 1969 e também, merecedora da primeira trilha sonora de uma novela da emissora a ser lançada. Um grande ponto para a carreira de Nelson Motta, que produziu o disco sob encomenda da emissora e que foi lançado pela Philips, a som livre só passou a lançar as trilhas da emissora no ano seguinte. Uma faixa histórica. Sabe o título de “namoradinha do Brasil” que a Regina Duarte carrega até hoje? Então, ele começou surgir nessa trama. Um fato curioso vem logo na segunda faixa com “Jazz Potatoes” de Jorge Ben Jor que foi tema da novela “A Volta de Beto Rockfeller” da TV Tupi em 1973, mostrando que nem tudo é Rede Globo nesse disco.
“Paiol De Pólvora” de Toquinho e Vinicius de Moraes, quase foi tema de abertura da história de Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) em “O Bem Amado” também de 1973. A música que fala sobre o teatro Paiol foi vetada pela censura e jogada para trilha dos personagens. Nessa sequência temos grandes sucessos da MPB como “Alegre Menina” de Djavan para novela “Gabriela” e “Pecado Capital” de Paulinho da Viola, tema de abertura feito em caráter de urgência para substituir a então novela das 8 “Roque Santeiro” que veio a ser censurada no dia da estreia e que gerou o grande sucesso de Janete Clair ambas de 1975 e “Meu Mundo E Nada Mais” clássico de Guilherme Arantes para a primeira versão de “Anjo Mau” de 1976 e que foi regravada pelo mesmo para a segunda versão da novela em 1997.
A faixa mais dançante fica com “Dancin’ Days”, posto insuperável do grupo As Frenéticas. As tramas de Gilberto Braga, autor conhecido por seu “toque pessoal” nas trilhas de suas tramas marcam o recorde de músicas inseridas no disco, que ainda contam com “Menino Do Rio” de Baby Consuelo gravada para a excelente “Água Viva” de 1980, “Me Deixas Louca (Me Vuelves Loco)” última gravação de Elis Regina, feita a pedido do autor para a novela Brilhante, uma jóia rara gravada pela eterna Pimentinha. Fechando a sequência Braga do disco temos “Anos Dourados (Instrumental)” sucesso de Tom Jobim para uma das melhores e mais memoráveis minisséries já exibidas.
A versão “liberada” de “Roque Santeiro”, finalmente lançada em 1985, marca presença com “De Volta Pro Meu Aconchego”, um divisor de águas na carreira de Elba Ramalho. Também de 1985 temos “Whisky A Go-Go” composição dos maiores hitmakers da década de 1980, a dupla Sullivan e Massadas na voz de uns dos recordistas de trilhas sonoras em novelas, o grupo Roupa Nova. Essa foi para a louca trama de “Um Sonho A Mais” de 1985. Confesso que até bem pouco tempo atrás eu achava que a música e a novela tinham o mesmo nome. Inocente...
As últimas faixas tem o apelo popularesco, que era muito exigido na década de 1980. A começar com “Transas” de Ritchie para a clássica “Roda de Fogo” de 1986, “Pelado” do Ultraje A Rigor para a polêmica abertura de “Brega & Chique” de 1987, “O Amor E O Poder (The Power Of Love)” ou para os mais íntimos (Como uma deusa...), sucesso mega açucarado e arrebatador que fez a carreira da cantora Rosana deslanchar fez a vez da tragédia grega existente na trama de “Mandala” de 1987. Quem não se lembra da “deusa” Vera Fischer??? E também temos “Lua E Flor” de Oswaldo Montenegro que fez muito sucesso por causa do amor de Sassá Mutema, papel inesquecível de Lima Duarte pela sua professorinha Clotilde, interpretada pela sempre bela Maitê Proença (ahh Maitê...) em “O Salvador Da Pátria” de 1989. Uma curiosidade sobre essas duas últimas músicas. Ambas eram satirizadas nas novelas do programa “TV Pitara”, o “Amor E O Poder” na novela “Fogo No Rabo” de 1988 como tema do Reginaldo (Como uma deusa...), sátira da novela “Roda de Fogo” de 1986 e do personagem Renato Vilar e “Lua E Flor” em “Rala Rala” de 1989, tema do índio Cleverson, livre inspiração para saga de Sassá Mutema, coisa totalmente louca.
E pra fechar, temos mais Gilberto Braga com um dos melhores pedidos que ele poderia ter feito a um artista depois da Elis Regina, pedir para Gal Gosta gravar “Brasil”, uma das melhores composições de Cazuza que serviu de tema de abertura para a trama que discutia o valor de ser honesto no nem tão distante Brasil do ano de 1988, “Vale Tudo”. A versão produzida pelo Liminha, nunca entrou na discografia original da cantora, mas marcou época sendo executada mais de 406 vezes (abertura e encerramento, fora as chamadas de comerciais e cenas), tempo em que a novela ficou no ar. Um verdadeiro tapa de pelica que continua a doer na cara de muitos até hoje. Ótimo encerramento.
O encarte do CD ainda acompanha trechos do livro feitos pelo autor Vincent Villari falando sobre cada uma das músicas selecionadas. Uma boa pedida para ouvir enquanto ler o livro na integra e aguarda os próximos lançamentos da série “Teletema”, já que o segundo livro foi confirmado.