Por Anderson Nascimento
Em 1969, Martinho José Ferreira, já conhecido como compositor, inclusive com boas participações nos saudosos festivais de música, lançava o seu primeiro LP, autointitulado, que foi responsável por vários marcos importantes, não só na carreira de Martinho da Vila, que a princípio não queria ser cantor, mas também na gloriosa história do Samba.
Em primeiro lugar, o disco emplacou diversos sucessos, sendo que muitos deles se tornaram os mais clássicos Sambas de Martinho em todos os tempos, como por exemplo, “Casa de Bamba”, “O Pequeno Burguês”, “Quem é do Mar Não Enjoa”, “Tom Maior” e “Pra Que Dinheiro”, só para citar alguns. Depois, vale dizer que o efeito desse disco de Martinho da Vila fez com que o Samba se tornasse um estilo musical de consumo em massa, enfim o Samba chegava a todos os lares, independente de cor ou classe social.
Por vários motivos, o álbum “Martinho da Vila” (1969) alcançou o status de verdadeiro clássico do Samba, nada mais justo e inteligente que, para completar 45 anos de carreira o sambista rendesse uma homenagem ao disco que deu origem ao fenômeno radiofônico que se tornaria o Samba a partir dali, não obstante, o próprio Martinho viria a ser o primeiro sambista a ultrapassar 1 milhão de cópias vendidas em um dos seus álbuns.
Em tempos onde o revisionismo de álbuns clássicos virou moda – vários artistas brasileiros estão revisitando álbuns clássicos, Paralamas do Sucesso e Titãs são dois exemplos – Martinho regravou todas as canções de seu disco seminal, incluindo novos arranjos, com cerca de 40 músicos, incluindo cordas, percussões e côros, além de quatro faixas bônus.
Faixas como “Casa de Bamba” ganharam arranjos bem diferentes, enquanto faixas como “O Pequeno Burguês” e o Samba Enredo “Quatro Séculos de Modas e Costumes”, permaneceram com poucas alterações a partir das gravações originais. É fato de que muitas dessas faixas jamais saíram do repertório do Martinho em seus shows e álbuns ao vivo, o que fez com que muitas faixas seguissem os arranjos já construídos para as suas apresentações ao vivo.
Uma das maiores mudanças, no entanto, é a voz de Martinho da Vila que, assim como vinho, envelheceu, mas se tornou mais palatável em relação à forma que o cantor interpretava as suas músicas no início de carreira, quando a sua voz era ainda mais arrastada e “malandra”.
Nas faixas bônus se encontra “Menina Moça”, um dos primeiros sucessos do cantor, lançada originalmente em compacto e defendida no III Festival da Record em 1967, além de “Pãozinho de Açúcar”, faixa composta nos anos noventa para um álbum em homenagem ao Rio de Janeiro, “Samba dos Passarinhos”, e a boa inédita “Partido-Alto de Roda”, uma homenagem a vários compositores e sambistas.
Em uma bem sacada homenagem à sua própria obra, Martinho da Vila dá provas do poder de seu repertório, nesse caso parece que estamos falando de uma coletânea, mas é só o seu primeiro álbum, recheado de sucessos, que mostra para as novas gerações que ele ainda é um dos maiores nomes quando o assunto é Samba. Vida longa Martinho!