Por Anderson Nascimento
Apesar de “Tempo” ser apenas o segundo disco da “Banda do Sol”, o grupo paulista foi formado no iniciozinho da década de oitenta, quando já começava a imperar no mundo da música o pós-Punk. Com muita vontade de manter em voga o Rock Progressivo que continuava fascinando o grupo, a banda reuniu suas principais influências – a saber Beatles, Genesis, Yes, Ravi Shankar, Deep Purple e até tropicalismo – e foi à luta, participando de vários festivais, participando de coletâneas e ganhando prêmios, o que consequentemente levou a banda a gravar o seu primeiro disco, auto-intitulado, de forma independente, o que, naquela época, era algo muito mais complexo que nos dias de hoje.
Sem contar com uma grande gravadora, a banda acabou sendo desativada. Quase trinta anos depois de lançarem o primeiro álbum, Moacir Jr. (Moa Jr.), cascudo vocalista e guitarrista da banda, resolve reativar a banda e a reformula para ensaios, o que obviamente culminou em novas músicas e no novo disco da banda “Tempo”, lançado em 2010.
O disco vem trazendo canções novas oriundas de vários momentos e fases da banda, o que se reflete na conjunção dos temas do álbum, que variam entre o resgate do “Eu” e as possibilidades proporcionadas pelo pensar.
Uma das grandes virtudes que a banda consegue expressar nesse novo disco é o sábio equilíbrio entre os momentos instrumentais, vocais e o posicionamento das letras. A faixa que abre o disco, “Som do Sol”, talvez seja a que mais defina a banda e a sua nova fase. Trocando em miúdos, uma respeitável interpretação vocal para uma letra bacana, encapados por um instrumental que urdi nuances do Rock Progressivo 70´s e 90´s. Belo cartão de visitas para quem começa a ouvir o álbum da forma como deve ser feito, ou seja, a partir da primeira faixa.
As guitarras iniciais de “Voar”, farão os ouvinte viajar por ondas sonoras que aludem ao que de melhor foi construído no prog nacional na segunda metade dos anos setenta. Show a parte também pelo duelo entre os riffs da guitarra de Fran Simi e do baixo de Cesinha Rodrigues na canja instrumental da canção.
A faixa “Tempo” é outro desbunde. Com dez minutos de duração, a música atravessa várias vertentes sonoras, ora parecendo que vai ser uma balada, ora parecendo uma pancada estremecedora, resultando na melhor música do álbum, adequadamente escolhida para batizar o álbum.
Outro grande momento é a faixa “Maya”, música que tem muito do tempero brasileiro em sua pegada, chegando a lembrar sons mais antigos com o “O Terço”. Falando em tempero, quem ouvir “Sinal de Liberdade” vai se arrepiar ao ouvir instrumentos com sitaras, tablas e demais instrumentos indianos, mesclados com guitarras em uma viagem semi-instrumental de sete minutos.
O disco teve um tratamento de um impressionante esmero, foi mixado na Califórnia nos Estados Unidos pelo ex-guitarrista do Yes, Billy Sherwood que já produziu bandas como Motörhead, Toto, Ratt e John Wetton. A masterização também foi feita nos Estados Unidos através das mãos do lendário Joe Gastwirt, que trabalhou com materiais de Paul McCartney, Jimi Hendrix e Santana, além de outros.
Não à toa o disco vem acumulando prêmios e obtido resenhas favoráveis no Brasil e no mundo. A última façanha foi o disco “Tempo” ter sido eleito “Álbum do Mês” na edição 102 (julho/agosto) da revista holandesa “Io Pages”, uma das revistas de Rock Progressivo mais importantes do mundo. Concordamos perfeitamente com a percepção da revista holandesa, e recomendo fortemente o disco para aqueles que querem ouvir o delicioso sabor do Rock Progressivo nacional.