Por Anderson Nascimento
Dotado de uma incrível habilidade com o manuseio de palavras em nossa língua, o músico e compositor recifense Vinícius Castro apropriadamente batizou o nome de seu seminal álbum com o título de “Jogo de palavras”.
O disco é um balaio de ritmos, que vai do Tango ao Rock, passando pelo Samba e Pop, com o fito de serem portadores de mensagens que vão de complexas reflexões cotidianas, caso da polidíssima “Carcaça”, à bem-humorada divagação e observação da canção “Cara Metade”.
Mesmo sendo este o seu primeiro álbum, Vinícius já demonstra uma característica peculiar em sua obra, a saber, a boa forma com a qual explicita pensamentos e análises que vão de hábeis construções líricas à simples evocação do popular.
A título de comparação, suas músicas tem um quê de poesia urbana, algo que leva o ouvinte direto ao manejo de Arnaldo Antunes com esse tipo de poesia. A canção “Dos Pés a Cabeça” é um bom exemplo disso, e mostra que, mesmo de temática infantil, a canção sugere uma sábia conexão entre partes do corpo e suas associações com objetos de uso diário.
Já em “Roque das Antigas”, Raul Seixas é lembrado, ao que parece uma continuação de seu clássico “Al Capone”, transformando-se em outro grande momento do disco, assim como o Rock bluseiro de “Blues da Solidão”.
“Marcas” marca o mergulho do artista em assuntos mais delicados, nesse caso, a traição. Com bela letra, e instrumental absolutamente fantástico, intimamente ligado ao Pop/Rock, Vinícius assina uma das melhores canções do disco. “Pecado Original” é outro desses momentos Pops, trata-se de uma canção doce e saborosa que tem tudo pra cair no gosto popular.
Como bom admirador da obra de Chico Buarque, Vinícius também se embala na MPB na esperta “Bala Perdida”, um espécie de sambinha à moda antiga, com direito à metais, e instrumental recheado de balanço. É o caso também da triste “Sangramento”, que encerra o álbum com letra reflexiva e melancólica.
Além de provocar considerações sobre diversos temas, o disco de Vinícius também consegue divertir. “Casa ao Revés” é um desses momentos. A faixa põe em xeque a questão da emancipação feminina em um interessante diálogo do artista com a canção.
“Jogo de Palavras” é um álbum que se assemelha a um livro, deve ser degustado com atenção para se aproveitar o máximo dele. Não a toa o álbum recebeu elogiosas resenhas de veículos como a revista “Rolling Stone”, o Jornal “A Folha de São Paulo” e, agora, ganha merecida aprovação do Galeria Musical.