Por Fabio Cavalcanti
Se existe um “big four” do rock nacional no gosto popular, podemos dizer que o Barão Vermelho nunca deixará de fazer parte desse grupo, especialmente por causa dos três excelentes álbuns lançados com Cazuza nos anos 80. A posterior fase com Frejat nos vocais trouxe momentos de qualidade um pouco mais variável, mas quase sempre com elegância e dignidade. Após um hiato significativo, a banda voltou à ativa com Rodrigo Suricato nos vocais, e finalmente lançou o primeiro álbum dessa nova fase: “Viva” (2019).
Aqui, temos apenas 31 minutos de espontaneidade, melodias simples e despretensão... para o bem e para o mal. O som é de um pop/rock eletroacústico que não se distancia de álbuns com o Frejat - como “Supermercados da Vida” e “Barão Vermelho 2004” -, e ainda bem revestido com guitarrinhas marotas à la Rolling Stones. As letras são bem intencionadas em sua vibe ensolarada e positiva, mas desprovidas da poesia cheia de “cores” que encontrávamos nos sons com o Cazuza. E a voz de Suricato, apesar de ser ok, não vai muito além das primeiras marchas...
Faixas como a semi-balada “A Solidão Te Engole Vivo” e o power pop “Por Onde Eu For” possuem uma boa pegada roqueira, mas parecem apenas regurgitar a essência do Frejat. E a faixa “Jeito” é um pop/rock feito de qualquer jeito (sem perdão do trocadilho), e com letras que só o Jota Quest aprovaria. Temos sim algumas músicas bem melhores: a ótima “Tudo Por Nós 2”, que é um quase hard rock melódico de energia contagiante, e a excelente “Vai Ser Melhor Assim”, que chama a atenção pelo ritmo pulsante e instrumental com pequenos ecos de Deep Purple.
Entre as baladas, dois destaques melancólicos: a levemente blueseira “Um Dia Igual Ao Outro” e a tocante “Castelos”, que remetem a um Cazuza regado a álcool em fim de noite. E o folk simplório “Pra Não Te Perder” tem algo de singelo na bela performance vocal de Suricato (e com uma boa participação sóbria da doidinha Letrux). Já o momento mais ousado é “Eu Nunca Estou Só”, que traz resultados irregulares em sua mistura de southern rock tupiniquim, produção moderna, versos redundantes, e um trecho de rap (cantado pelo BK) que ninguém pediu.
Nota-se que os membros fundadores Guto Goffi (bateria) e Maurício Barros (teclado) se divertem em seus instrumentos, mas o cantor Suricato nunca parece muito bem encaixado no conjunto, especialmente pelo fato de os melhores momentos aqui serem de uma atitude rocker que não é sua praia. Ainda assim, “Viva” é um álbum necessário, seja pelo som acessível e feliz, pela superioridade a alguns dos discos lançados com o Frejat, ou por trazer vida a uma banda que estava afundada em naftalina. E que o Barão Vermelho continue voando por aí...