Onze anos após o lançamento de seu último álbum de inéditas, o fraco “Just Push Play”, o Aerosmith lança um dos álbuns mais aguardados pelos que curtem o Hard Rock das antigas. E a pergunta inevitável é: valeu a pena a espera?
Todos sabem do potencial do Aerosmith em produzir grandes músicas e fazer história com o seu estilo tão peculiar. Mesmo os que não curtem a banda hão de concordar que alguns dos maiores clássicos do Rock foram paridos pela banda de Boston, EUA. Por outro lado, a banda também é dona de alguns grandes fracassos em termos de álbuns, o que é um prato cheio para os críticos que malham a banda.
Seu novo disco, décimo quinto álbum de estúdio, apresenta uma banda que vem tentando se manter viva, dadas as desavenças já conhecidas por meio da mídia que quase levaram a banda ao seu fim, em alguns momentos o Aerosmith consegue ser a banda que o seu nome representa, outros não.
Infelizmente é quase um desafio chegar até a sétima faixa, “What Could Have Been Love”, canção redentora que vem para salvar o disco, o que parece resumir as primeiras seis músicas como um “lado b” do CD, enquanto daí pra frente o álbum tem uma considerável melhora. A balada, que ganhou o primeiro vídeo clipe do álbum, consegue captar de verdade o espírito da fase em que o Aerosmith dominou a MTV e as rádios de todo o mundo com canções como “Amazing”, “Angel” e “Crazy”. E o mais bacana é que essa faixa não é a balada por balada, e sim uma canção realmente relevante, certamente o ponto mais alto do disco.
Algumas escolhas erradas jogam pra baixo o nível do disco. “Luv XXX”, por exemplo, tinha tudo para ser uma boa canção, não fossem as distorções desnecessárias do início da mesma, além de tudo, ela lembra um pouco o clássico “Love In a Elevator” (1989), o que mostra que a banda ou perdeu a criatividade, ou está tentando copiar uma de suas fases de maior sucesso. O mesmo ocorre em “Oh Yeah”, faixa que beira ao hard das antigas sem, no entanto, ser sublime. “Beautiful” é outro momento que poderia ter rendido algo interessante, mas o rap sem graça que duela com a faixa joga a mesma pra baixo. Já no caso de “Out Go The Lights” ninguém pediu, mas a música volta quando você pensa que acabou, para repetir incansavelmente por mais de três minutos o coro “uh, ah, uh”, desagradável.
Enquanto baladas como “Tell Me” soam pálidas, e Rocks como “Street Jesus”, chinfrim, “Legendary Child” é outro momento onde a banda busca inspiração no passado, só que aqui ela atinge o seu objetivo.
Outro momento ruim do disco é “Cant Stop Lovin You”, balada que conta com a participação da cantora country Carrie Undewood, embora nesse caso, outro fator acaba assustando ao ouvinte, por sugerir que a banda possa no futuro ter uma tendência a lá Bon Jovi, e enveredar para a Country Music.
Avançando sobre pernas bambas o disco começa enfim a ganhar rigidez de forma mais regular a partir do bom Rock “Lover Alot”, segundo single do álbum, música bastante diferente dos padrões da banda, por apresentar uma pegada menos Hard e mais pulsante.
O disco curiosamente se dá melhor em algumas de suas baladas. Além de “What Could Have Been Love”, o disco traz outras boas canções nesse estilo, caso de “We All Fall Down”, onde a banda acerta em cheio novamente, o que eleva a canção ao patamar das mais bacanas no disco. A faixa, escrita por Diane Warren, consagrada compositora de sucessos gravados por vários artistas - entre eles o próprio Aerosmith com “I Dont Want To Miss A Thing” - é a única faixa que não leva a assinatura de um dos membros da banda. “Closer” é outro bom momento do álbum, não é essencialmente uma balada, mas um Rock mais lento de muito bom gosto.
Nessa segunda metade, o disco também reserva algumas surpresas, entre elas o fato do guitarrista Joe Perry cantar duas canções, a excelente “Freedom Fighter”, rockão que traz a participação especial do ator Johnny Depp fazendo backing vocals e tocando guitarra, enquanto Steven Tyler vai pra batera, e “Something”, canção instrumentalmente perfeita que vai diretamente para os destaques do álbum.
O disco encerra com “Another Last Goodbye”, mais uma balada, dessa vez rica, adornada com cordas e pompas, mas não tão interessante como algumas outras do mesmo álbum.
Respondendo a pergunta inicial, ou seja, se valeu a pena a espera de onze anos por um disco de inéditas, digo que esperava um álbum melhor, talvez na linha de “Nine Lives” (1997). O grande problema do novo disco é o excesso de canções que, se fossem mais bem escolhidas, para compor um repertório menor, certamente agradaria mais o resultado final dessa obra.
De qualquer forma, o disco tem os seus bons momentos e, apesar de irregular, vai agradar mais do que desagradar, e a expectativa fica em torno da sequência da carreira da banda, entre brigas e hiatos, a esperança é que eles continuem, e que não demorem tanto para o lançamento de outro álbum de inéditas.