Resenha do Cd I Still Do / Eric Clapton

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I STILL DO
ERIC CLAPTON
2016

UNIVERSAL MUSIC
Por Valdir Junior

Nos últimos anos, Eric Clapton vem desacelerando aos poucos o ritmo de sua carreira com uma agenda de shows mais contida e um espaçamento maior entre seus álbuns de estúdio; com setenta e um anos de idade, suas prioridades se voltam mais para a vida familiar e a música vai ficando em segundo plano. Mas isso não quer dizer que a paixão e dedicação que ele devota a guitarra e a música estejam negligenciadas, muito pelo contrário, elas se fortalecem mais e mais a cada ano, prova disso é “I Still Do” seu mais novo CD, o vigésimo terceiro álbum de estúdio de sua carreira.

“I Still Do” chega três anos depois do regular “Old Sock”(2013) e dois anos depois de “The Breeze: An Appreciation of JJ Cale”, álbum em homenagem ao seu amigo e ídolo JJ Cale. Musicalmente o álbum vem na mesma linha dos anteriores, com gravações de obscuras canções vindas do blues, folk, country, jazz e novas composições, mas nesse álbum em especial, Clapton acertou em cheio, tanto na escolha das músicas, como na sonoridade e arranjo do álbum, unindo o clássico e o novo, numa linguagem bem próxima do pop.

Para isso Clapton chamou o veterano e lendário Glyn Johns para produzir o disco. Johns foi o produtor de dois álbuns de sucesso de Clapton nos anos 70, “Slowhand” (1977) com os mega ssucessos,“Wondefull Tonight”,“Cocaine” e “Lay Dow Sally”; e “Backless”(1978) de "Tulsa Time", "Promises" e "If I Don't Be There by Morning", discos que mostram um Clapton bem relaxado, tocando e cantando com o coração e transformando em suas canções de outros compositores e as deixando com um cara totalmente nova, o mesmo espírito e formato do novo “I Still Do”.

Usando a mesma banda de músicos e amigos que vem acompanhando nos últimos tempos, Clapton divide as guitarras com o excelente Andy Fairweather Low, guitarrista que já o acompanha desde o “Unplugged” de 1992, fazendo bases precisas na guitarra, deixando Clapton solto e a vontade para se extravasar em solos cheios de uma paixão, lirismo e urgência, como há muito tempo não o fazia. Um exemplo disso são as faixas "Alabama Woman Blues" de Leroy Carr, "Cypress Grove" de Skip James e "Stones in My Passway" do mestre Robert Johnson, todas com aquele timbre e pagadas que lembram o mítico grafitti “Clapton is God” dos anos 60.

“I Still Do”, assim que anunciando no inicio de 2016, gerou expectativas e comentários referentes a faixa "I Will Be There", que tem como convidado, um certo Angelo Mysterioso no violão e vocal, fazendo a imprensa do mundo todo noticiar que o álbum trazia uma contribuição tardia de beatle George Harrison no disco do velho amigo.

Tudo isso porque Harrison havia usado um pseudônimo parecido, "L'Angelo Misterioso", em 1969 quando tocou guitarra na música “Badge” do disco “Goodbye Cream”, do Cream, banda de Clapton na época. Logo Clapton e seus assessores vieram dar declarações que George não estava no disco e também não disseram quem era o misterioso anjo do disco, eu aqui, arrisco que se trata de Dhani Harrison, filho de George, pois o timbre de voz do cantor de "I Will Be There" é bem parecido com o de Dhani, o tempo dirá se isso está ou não certo, o caso que a música é uma bela balada e merecia ser comentada mais por esse mérito.

Clapton é o compositor de apenas duas músicas no disco, "Catch the Blues" um blues bossa, e "Spiral", um blues pop irresistível, uma das músicas mais marcantes do disco e faixa escolhida para a ótima animação que serve como clipe de divulgação. Nela a guitarra de Clapton está completamente hipnótica e praticamente conduz o vocal de Clapton durante a canção inteira, ponto alto do disco e da carreira de Eric, que desde "My Father's Eyes" de 1998 não conseguia unir seu blues numa música pop com tanta maestria.

Clapton volta a prestar homenagem a JJ Cale gravando duas composições deste, "Can't Let You Do It" e "Somebody's Knockin'", música esta que Eric já vinha tocando em seus shows e está presente no CD ao vivo “Slowhand at 70 – Live at the Royal Albert Hall” de 2015. Bob Dylan, outro dos compositores sempre presente nos discos de Clapton, tem a sua "I Dreamed I Saw St. Augustine" do álbum “John Wesley Harding” de 1967 presente numa versão mais ritmada que a original.

Em recentes entrevistas Clapton vem sinalizando a vontade de se aposentar, se o fizer agora, sai por cima com um álbum que é disparado o melhor disco de Eric Clapton nos últimos dez anos e uns dos grandes álbuns de sua carreira, e com certeza é um dos melhores discos lançados esse ano. Enquanto ficamos no aguardo dos próximos passos de Clapton, vamos nos divertindo com “I Still Do”, um álbum que não pode e nem deve ficar longe dos apreciadores de boa música e amantes das seis cordas.

Resenha Publicada em 24/05/2016





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