Por Anderson Nascimento
O Ocean Colour Scene nasceu na Inglaterra no início dos anos noventa, resultado da fusão de duas bandas pouco conhecidas por lá. Apesar de não fazer parte do mainstream, mesmo em seu auge em torno de 1996, a banda disputou ombro a ombro a ponteira entre as bandas prediletas da moçada lá no Reino Unido. Inclusive foi nessa época que a banda atingiu o seu melhor momento, onde tocou no famoso concerto de Knebworth junto com a banda Oasis para uma platéia gigantesca.
Também data dessa época o lançamento de "Moseley Shoals", segundo disco da banda, e que colocou a banda na segunda posição nas paradas de sucesso inglesa. O álbum acabou tendo quatro singles nas paradas, todos entre os vinte mais, porém nenhum alcançou o topo.
O que marca esse álbum, no entanto é a pegada e o misto de Rock explicitamente calcado nos anos setenta. Encontramos influências de Rolling Stones a David Bowie, passando obviamente pelos Beatles, em uma época onde o BritPop começava a entrar em uma fase de adocicação por conta do surgimento de bandas como Travis, Coldplay, Snowpatrol e etc...
O clássico "The Day We Caught The Train" é desse disco. Qualquer coisa que eu fale sobre essa música é chover no molhado, ela é simplesmente brilhante. Com um grande número de variações ao longo da faixa, a música em questão passa por sons que lembram os Beatles na segunda metade dos anos 60, e incrivelmente na parte onde o vocalista grita "Roll a number, write another song like Jimmy heard the day he caught the train", tem-se a impressão de ouvir o próprio John Lennon ali cantando.
Outro momento que referencia esse saudosismo é na guitarra rasgada no solo de "Policemen & Pirates", uma das melhores canções do disco, em uma música que lembra muito os primeiros álbuns do já citado David "Camaleão" Bowie. Em "40 Past Midnight" chegamos quase a cantar "Let´s Spend The Night Together" do Stones. Isso também acontece em "The Downstream", com uma levada que lembra muito "Wild Horses", novamente dos Stones.
Mas se o álbum referencia tanto os anos sessenta e setenta, "The Circle" situa novamente a banda na década de noventa, com o BritPop praticado naquela época, e, que isso fique claro, não deixando nada a dever à nenhum de seus companheiros de geração.
O disco é pungente do início ao fim, desde a faixa de abertura "The Riverboat Song", onde a banda esbanja virtuosismo reafirmando a fama de que a banda possui de ter grandes músicos, até a faixa final "Get Away" onde o clima começa em uma levada folk mas que ao longo de seus quase oito minutos, brinca com efeitos e sons de guitarras, baterias longe, baixo pulsante, exalando saudosismo setentista (de Tom Petty à psicodelia do Pink Floyd) e já deixa o dedo do ouvinte nervoso para iniciar uma nova audição do disco.
Depois disso, a banda finalmente alcançou o primeiro lugar com o disco "Marchin' Already", mas o pontapé inicial já havia sido dado com "Moseley Shoals". Mais de dez anos após ser lançado "Moseley Shoals" continua encantando a todos com acordes perfeitos, sonoridade cheirando a mofo e muito, muito bom gosto