Por Valdir Junior
Lançado em setembro de 2013, “Shout!” é o décimo álbum de estúdio do Gov’t Mule, banda capitaneada pelos super instrumentistas Warren Haynes (Guitarra/Voz) e Matt Abts (bateria), esse é também o segundo álbum gravado com o baixista Jorgen Carlsson, que assumiu o posto no álbum anterior o excelente “By a Thread”(2009).
Nesse período entre um álbum e o outro, o Gov’t Mule continuou com a agenda repleta de shows, e Warren Haynes teve tempo para lançar seu disco “Man in Motion” (2011), com um som bem na onda da gravadora Stax, mostrando um tempero mais soul, os shows acabaram virando o CD/DVD “Live at the Moody Theater”(2012).
“Shout!” foi gravado em Los Angels (California) e Stamford (Connecticut) entre 2012/2013, e traz o Gov’t Mule explorando ainda mais os caminhos e o som do Blues Rock com altas dose de Southern Rock aliada às “jams” inspiradíssimas que se tornaram marca registra da banda desde seu inicio em 1994.
Com um total de 11 faixas inéditas, “Shout!” traz um repertório bem conciso com músicas fortes e cheias de energia, composta em sua maioria pela banda e em alguns casos somente por Warren Haynes, que mais uma vez comprova sua qualidade como um dos grandes compositores do rock americano e por que não do mundo.
Um dos aspectos que mais se percebe ao escutar o álbum, é o entrosamento dos músicos, a banda está muito mais “solta” e “afiada”, remetendo diretamente a fase inicial da banda, quando eles ainda eram um trio e o saudoso Allen Woody comandava o peso das quatro cordas. Desde 2003 a banda é um quarteto, com a inclusão do tecladista Danny Louis.
“Shout!” é um álbum arrebatador, da abertura com a swingada, mas pesada, “World Boss”, até a faixa final “Bring On The Music”, encontramos todos os elementos já mencionados que moldam o som feito pelo Gov’t Mule nesses anos todos: baixo-guitarra-bateria dialogando sem parar, em frases e levadas que em momento algum cansam, numa referencia que a banda nunca deixou de fazer ao som de bandas como: Led Zeppelin, Free, Black Sabbath, Deep Purple entre outras das décadas de 60 e 70.
No início das gravações do álbum, a banda teve a idéia de chamar alguns amigos para participarem como convidados especiais em algumas faixas, mas durante o processo o número de amigos que toparam a empreitada (gente como Ben Harper, Elvis Costello, Dr. John, Jim James, Grace Potter, Toots Hibbert, Glenn Hughes, Ty Taylor, Dave Matthews, Myles Kennedy e Steve Winwood) era tantos, que a solução foi usar as mesmas músicas cantadas por Warren no álbum em um segundo disco, com os convidados nos vocais principais das mesmas músicas e o Gov’t Mule fazendo toda parte instrumental.
Com a inclusão desse segundo CD, o álbum tomou uma dimensão muito maior, podemos perceber a qualidade das composições e dos arranjos, porque mesmo que usando a quase que a mesma base instrumental, as interpretações dos cantores transformam as musicas praticamente em outra. Um dos exemplos disso é "Funny Little Tragedy", musica explosiva que na versão com o vocal de Elvis Costello se transforma numa musica bombástica/delirante/sarcástica.
Outras duas boas interpretações são a de Grace Portter em "Whisper In Your Soul", que traz para a música uma interpretação sensual e catártica para uma música que por si só já carregava solidão e paixão, absolutamente demais. "When The World Gets Small" com Steve Winwood, parece um out-take do Blind Fait ou Traffic de tão pessoal que ficou.
Para os já iniciados a audição desse álbum, só vai confirmar que a qualidade e a energia da banda continuam a mesma, com a banda vivendo um de seus melhores momentos, para os que não conhecem essa é uma ótima oportunidade de conhecer a banda e também tendo esse CD bônus para experimentar e descobrir a cada audição, o quanto, como compositores e arranjadores, o Gov’t Mule é uma banda que merece e deve ser conhecida por todos aqueles que gostam de boa música.