Por Tiago Meneses
Qual o maior letrista da história do rock progressivo? Peter Gabriel? Roger Waters? Ian Anderson? Bom, esses são apenas três de alguns nomes que costumam ser citados como os maiores. Mas porque deixar de fora aquele que particularmente considero o maior de todos? Talvez sua banda não tenha o peso e reconhecimento de Genesis, Pink Floyd ou Jethro Tull dos supracitados, mas sem sombra de dúvidas, o Van Der Graaf Generator, liderada por Peter Hammill, cravou seu nome ao lado do Gentle Giant na minha visão, como uma banda que conseguiu lançar seguidamente 8 álbuns senão de alto nível, ao menos bons trabalhos, sem jamais deixar cair a qualidade sonora.
Considero "Godbluff", com suas quatro faixas, o melhor de todos eles, o suprassumo da criatividade de Peter Hammill e companhia. Tudo começou depois da banda ter dado uma pausa após terem lançado 4 álbuns em apenas dois anos. Decidiram então ficarem por 4 anos parados até gravarem sua maior obra prima.
"Undercover Man" abre o álbum com alguns vocais tranquilos de Hammill, quase em sussurros. Eles logo crescem e um agradável órgão entra na canção. Tem algo que devo mencionar logo na primeira música aqui. O áudio desse álbum é um pouco abaixo da média, tanto na versão original de 1975 quanto na de 1988, tudo soa um pouco com uma certa conspurcação e a qualidade não muito boa, por isso, aos mais detalhistas, é sempre bom tentar ouvir o remasterizado de 2005, quando enfim corrigiram esse erro. Mas isso é apenas um pequeno inconveniente. Destaques para os vocais dramáticos de Hammill. E também ao que acontece por volta da metade da peça, quando David Jackson vem com um grande interlúdio saxofone / flauta que realmente ajuda a atmosfera geral da faixa.
"Scorched Earth" é a segunda faixa, possui uma ótima atmosfera. Uma letra interessante e ótimos vocais por parte de Hammill. Um órgão e um sax emotivo que tem o acompanhamento da agradável bateria de Guy Evans. Há também um ritmo subjacente de guitarra solo. Sem dúvida é uma música que podemos dizer que trata-se do seu tipo de repertório mais clássico, menos melodioso, mais obscuro, intrincado. Possui também um final que merece todos os destaques possíveis.
"Arrow" tem uma base rítmica sólida e alguns sax que que nos dão uma sensação de improviso. Então que entram em uma seção espacial antes dos vocais (que na minha opinião só serve mesmo pra preencher uma lacuna de tempo, mas não quero dizer que isso comprometa a música), então que a canção vai pegando ritmo lentamente. Os vocais e letras de Hammill estão na sua mais cortante e agressiva forma (ainda que soem de maneira muito compactada e o órgão seja mais dominante do que os próprios vocais). Longe de não ser uma boa música, mas se eu fosse falar algo contra, diria que poderia ter sido mais curta do que acabou sendo. O final, porém, é grandioso, com órgãos distorcidos e modulados aliados a um solo arrojado de sax criando uma parede de som que pode ser definida até mesmo como embaraçosa ao ouvinte.
O álbum fecha através de, "The Sleepwalkers". Essa não é apenas a melhor música do álbum, mas sim, a epítome da Van Der Graaf Generator em si. É uma verdadeira alquimia musical, inúmeros estilos em apenas uma canção. Nada menos do que genial. Até mesmo a maneira de Hammill trabalhar é bem variável. Canta, chora, resmunga, grita, enfim, viaja. Uma performance memorável de todos os envolvidos em uma verdadeira obra de arte. Bateria, órgão, sax, clangor, tudo sob um desempenho vocal quase teatral. Simplesmente um final de álbum sensacional.
Certo que Van der Graaf Generator é uma dos grupos mais inventivos da história, mas mesmo assim, "Godbluff" se destaca dentro da inventividade da banda pela sua originalidade. Um álbum praticamente sem uso de guitarra (ou solos virtuosos de teclados pra supri-la) e ainda assim completo musicalmente e que sem sombra de dúvida pode ser colocado entre um dos 10 melhores do rock progressivo de todos os tempos.