Por Anderson Nascimento
“Alô mamãe!” é a primeira frase de Neil Young no seu novo álbum, o impensável “A Letter Home”, seu 34° álbum, que inicia com uma mensagem falada de dois minutos introduzindo o álbum em forma de uma carta aos seus pais, o que dá mais sentido e credibilidade à obra.
Que Neil Young é uma figura excêntrica isso ninguém duvida, mas por essa ninguém esperava: o canadense gravou o seu novo disco em uma antiga cabine de gravação de 1947, onde o artista canta e toca ao mesmo tempo em que a gravação vai sendo perpetuada em vinil. Tal projeto foi possível graças a Jack White, que possui uma versão reformada da relíquia em seu estúdio de gravação em Nashville.
O disco foi lançado pela gravadora de White “Third Man Records” no dia 19 de abril no “Record Store Day”, dia em que as lojas de discos e artistas lançam souvenires para os seus fãs.
Com áudio obviamente lo-fi, com direito a toda chiadeira e pipocos possíveis, Neil apresenta onze faixas de artistas como Bob Dylan (“Girl From The North Country”), Willie Nelson (“Crazy”) e Everly Brothers (“I Wonder If I Care As Much”), entre outros.
Assim como boa parte de suas gravações, Young empresta a doçura de sua voz e a emoção de sua interpretação às canções, e aqui, com pouquíssimos recursos, basicamente um violão, voz e, eventualmente, uma gaita. Salvo a participação de Jack White nos vocais e pianos das faixas "On the Road Again" e "I Wonder If I Care as Much".
Dessa forma, ao longo do disco somos brindados com momentos divinos que certamente já se perpetuaram em sua vasta coleção de êxitos. Esse é o caso de “Changes” (Phil Ochs) e “Needle of Death” (Bert Jansch), disparados os melhores momentos do álbum.
A escolha das canções parece revelar alguma relação entre elas, tanto que o período do cancioneiro é coerente ao pairar entre os anos 60 e 70, o que faz, por exemplo, “My Hometown” (Bruce Springsteen) se encaixar de forma perfeita no repertório.
Inquieto, inventivo, excêntrico, ou até louco, chamem-no do que quiser, mas se há uma coisa que todo mundo vai concordar é que Neil sabe retirar a essência de uma canção como ninguém.