Por Claudinei Jose De Oliveira
Se há algo que marcou a trajetória dos Beatles, foi a preocupação artística com a música. O que, talvez, tenha pesado significativamente na decisão da banda, em meados dos anos 1960, em não mais excursionar. A tecnologia de amplificação sonora do período deixava muito a desejar, principalmente se o músico tivesse qualquer preocupação além dos números da bilheteria.
Lançado no mês de maio de 1970, "Live At Leeds" é o primeiro registro ao vivo dos britânicos The Who e é considerado, se não o melhor, um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos. É, também, prova de que, em um curto espaço de tempo, o sistema de amplificação e gravação ao vivo evoluiu assustadoramente.
Com o fim dos Beatles e do Cream, a morte de Jimi Hendrix, os Stones resolvendo problemas de morte e vício entre seus integrantes e o Led Zeppelin acabando de decolar, em cima do palco não tinha para ninguém, tanto que a audição de "Live At Leeds" nos mostra que o The Who havia estabelecido os parâmetros do "concerto de rock" para a década de 1970.
Está tudo no álbum: a pegada desesperadamente frenética do instrumental (sem mencionar o inusitado da cozinha da banda solar o tempo todo enquanto a guitarra segura o ritmo); os longos improvisos durante as músicas ("My Generation", por exemplo, se estende por mais de quinze minutos); os "covers" de excelente bom gosto ("Summertime Blues" e "Shakin' All Over"); os clássicos ("I Can't Explain", "Substitute", "Magic Bus", entre outros) e as primeiras tentativas de ópera-rock da banda ("A Quick One, While He's Away"). Ou seja, o álbum esboça tudo o que seria, durante a década, explorado pelas bandas de rock, do progressivo ao punk (!).
Gravado na universidade de Leeds, na Inglaterra, o disco registra o fechamento da turnê do (conceitual) álbum "Tommy", a qual foi um retumbante sucesso. As posteriores edições em CD apresentam o concerto de maneira mais completa, sendo que a edição "Deluxe" de 2001 traz um segundo disco com a apresentação de "Tommy" na íntegra, além de diálogos entre as músicas e apresentações das canções.
Já a simplicidade da capa remete aos famigerados "discos piratas" (ou "bootlegs") tão comuns na época. Antes de decidir gravar o concerto em Leeds, a banda havia gravado uma quantidade assustadora de fitas com áudios de outros shows. Diante do trabalho árduo da escolha das melhores gravações para compor um álbum, as fitas foram ritualmente queimadas pela banda para evitar a pirataria.
De fato, o clima de "Live At Leeds" é o de guerreiros que haviam queimado pontes para não retroceder, avançando com a faca entre os dentes.