Por Anderson Nascimento
O início dos anos 1970 foi bastante agitado na vida do Inglês Graham Nash. O músico, compositor e cantor que havia deixado os Hollies veladamente por divergências musicais e artísticas, vivia um ótimo momento musical com a sua nova banda formada por estrelas que batizaram a banda com seus sobrenomes Crosby, Stills, Nash & Young.
Com o quarteto Nash havia gravado os bem sucedidos “Dèja Vu” (1970) e “4 Way Street” (1971); já como trio (sem Neil Young) haviam lançado também com sucesso do seu debut pós-Hollies chamado “Crosby, Stills & Nash” (1969); e como dupla, com David Crosby, outro bom disco em 1972, autointitulado e primeiro de uma sequência de álbuns com o ex-Byrds.
Em 1973, no entanto, Nash queria dar vazão ao fértil período criativo gravando outro disco de estúdio com o grupo, embora lançar outro disco de estúdio àquela época não era consenso entre todos os seus companheiros. Dessa forma, Nash iniciou a gravação do que seria o seu segundo disco solo “Wild Tales”.
Se na vida artística as coisas iam bem, na vida pessoal as coisas não se acertavam. Nash vivia um período complicado por conta do fim do primeiro casamento com Rosie, sua primeira esposa, e também pelos conturbados relacionamentos com Joni Mitchell e Rita Coolidge, no caso da última, dizem as más línguas que o triângulo amoroso que envolvia Stephen Stills acabou sendo o pivô da primeira ruptura do quarteto.
Foi no meio de tudo disso que Graham Nash gravou o sucessor de seu primeiro álbum solo “Songs for Beginners” (1971), lançando o disco no início de 1974, mais precisamente no dia 2 de janeiro, como se ele estivesse querendo expurgar aquelas histórias de sua vida, tendo então um ano inteiro pela frente para por a vida em ordem.
Nash, no entanto, não ficaria satisfeito com o resultado das vendas e da popularidade de seu novo álbum, acusando a Atlantic Records de não apoiar e tampouco promover o seu disco. Tal fato levou Nash a mudar para a ABC Records, assinando um (vantajoso) novo contrato que previa o lançamento de quatro álbuns com o seu parceiro David Crosby.
Apesar de a crítica o considerar menos inspirado que o disco anterior, esse álbum caracteriza-se por um clima sombrio que acabou suscitando diversas especulações em torno da inspiração de Nash para a composição do disco. O que se sabe, no entanto, é que os já citados problemas de relacionamento o ajudaram a construir a textura melancólica do disco.
Um dos pontos fortes do álbum é o instrumental mais roqueiro que o álbum anterior, fato que acaba diferenciando esse disco dos demais trabalhos do artista. Essa pegada encontrada já na faixa título, que abre o álbum, contrasta com a melancólica “Hey You (Looking At The Moon)”, sequência que atesta a característica singela, porém forte, da obra.
A presença incisiva da gaita tocada por Nash ao longo de canções como a enigmática “Prison Song”, também oferece ao ouvinte uma abordagem diferenciada neste trabalho do artista. Assim como canções deliciosas como a crítica “You’ll Never Be The Same” e a Dylanesca "Oh! Camil (The Winter Soldier)".
Entre as participações especiais estão os seus amigos de banda David Crosby, gravando voz em três faixas e Neil Young, tocando piano em “And So It Goes”. Destaca-se também a participação das guitarras de David Lindley, principalmente em “Grave Concern”, e Ben Keith, principalmente na já citada “You’ll Never Be The Same”, que ditam o tom de diversas faixas no disco.
Em julho de 1974, enfim o quarteto volta para uma pequena, porém histórica, turnê. Essa fase permaneceu arquivada até 2014, quando foi lançado CD, LP, DVD, Blu-Ray e livro sobre esses shows.
Depois disso, Graham Nash gravou outros álbuns com David Crosby, retomou o trio em 1977, mas só voltou a gravar um álbum solo em 1980.
Uma pena que este álbum, que completou 40 anos em 2014, tenha sido lançado em uma época com tanta oferta de artistas e bons álbuns, o que acabou fazendo com que “Wild Tales” fosse esquecido ou considerado menor por boa parte da crítica.