Por Valdir Junior
Após o lançamento do excelente e matador “Blak and Blu” (2012), o guitarrista americano Gary Clarck Jr, percorreu o mundo numa maratona de shows explosivos e catárticos, que comprovaram que realmente ele é uma das grandes revelações no mundo da seis cordas e também um ótimo cantor e compositor, tanto que Gary ganhou em 2013 um Grammy pela melhor performance de R&B, entre outros prêmios pelo seu álbum de estreia.
Para registrar esse momento na carreira e também mostrar que é no palco que Gary se sente ainda mais a vontade, chega às lojas do mundo todo “Gary Clark Jr. Live” um álbum duplo com quinze musicas gravadas durante a tour 2013/2014 do guitarrista. Nos CDs estão presentes grande parte das canções do álbum “ Blak and Blu” e também alguns clássicos do Blues.
Acompanhado por uma banda de apoio muito bem entrosada, composta por King Zapata (Guitarra), Johnny Bradley (Baixo), Johnny Radelat (Bateria), que ao mesmo tempo em que fazem toda a base sonora para que Gary despeje nota a nota, seus sentimentos, conseguem mostrar a personalidade e “pegada” de cada um deles em seu instrumento. King Zapata tem até descrito no encarte qual é o seu, e qual é o solo de Gary em cada música, comprovando isso.
No entanto um aspecto que deixa um pouco a desejar no álbum todo é a falta de “sujeira” e “crueza” no som. Diferentemente do passado, quando os discos ao vivo dos artistas tinham todo um conceito e proposta, em que o artista queria imprimir nos sulcos do velho vinil, como e de que maneira o mesmo fazia o seu show. Hoje os álbuns pouco diferem dos de estúdio, e muito da energia e entrega do artista acaba tendo um impacto muito menor nessas gravações ao vivo.
Mas “Gary Clark, Jr. Live” apesar de mostrar um pouco desse lado (ao meu ver a culpa maior por isso não é do artista, mas sim de um mercado que quer tudo cada vez mais limpo e controlado), não deixa de forma alguma o ouvinte descontente. Gary faz “O diabo-a-quatro” com as músicas, esticando e improvisando muito em cima dos temas já conhecidos no seu álbum de estreia, e mostra o porquê ele é comparado a Jimi Hendrix e a Steve Ray Vaughan.
Para quem já conhece o CD “Blak and Blu” e também o EP “The Bright Lights” sabe o que vai encontrar aqui nesse CD ao vivo, e posso confirmar, não vai se decepcionar, Blues, Rock e Rythm and Blues, com pitadas do moderno R & B. Destaque para a faixa de abertura “Catfish Blues” que despeja o mais puro blues elétrico hendrixiano em nossos ouvidos, e nos faz pedir mais, e também “Three O’Clock Blues” de B.B.King e “If Trouble Was Money” de Albert Collins.
Outra faixa que merece ser escutada nessa versão ao vivo é o meddley “Third Stone From The Sun / If You Love Me Like You Say” já presente no “Blak and Blu”, que aqui o psicodelsmo e a “viagem” com que Gary a toca quase nos transporta literalmente para o espaço. “When The Sun Goes Down” do bluesman Leroy Carr fecha o álbum duplo no melhor estilo “rambling man” do Mississipi com aquela gaita malandra e a guitarra chorando e suspirando a cada nota, cada frase cantada por Gary.
Enquanto ficamos no aguardo de mais um álbum de estúdio de Gary Clarck Jr, temos esse “Live” para ficar esquentado e agitando nossos fones de ouvidos, auto-falantes e corações com a guitarra endiabrada de Gary, e até lá com certeza cada vez mais você vai ficar viciado no blues moderno e quente que esta de ponta a ponta nesse CD duplo.