Por Valdir Junior
Depois de lançar em 2012 o aclamado álbum “Blak and Blu”, disco que apontava uma nova direção para o Blues contemporâneo, e cair na estrada pelo mundo todo divulgando o álbum, turnê essa que resultou o excelente ao vivo “Live”, Gary Clarck Jr. se trancou em seu estúdio e praticamente sozinho começou a trabalhar e a gravar as músicas de “The Story of Sonny Boy Slim”, seu segundo álbum de estúdio.
Mergulhando fundo em suas primeiras influências e lembranças musicais, Gary buscou tanto a liberdade e o sentimento de contemplação e descoberta na feitura das músicas do álbum, numa reminiscência direta de quando ele tinha doze anos e começou a escutar música com mais atenção. O nome do álbum já entrega quase de forma psicanalítica, o quanto Gary está se projetando nesse trabalho, pois Sonny Boy era como ele era chamado por sua mãe quando pequeno.
Para a direção musical do álbum, Gary forçou-se a pensar e trabalhar cada música como um todo, buscando arranjos que fossem muito além do básico e expandissem a possibilidades sonoras de cada uma delas. Quando escutamos “The Story of Sonny Boy Slim”, percebemos que a diferenciação sonora do “Blak and Blu”, com sua mistura criativa de Rock, Blues, Jazz, Soul, Country e Hip Hop, deu uma passo a frente nesse novo álbum. Aqui todos esses elementos se tornam alicerces sólidos de uma proposta artística que demonstra querer revitalizar a música atual, indo mais além do que um simples álbum de Blues, Rock, Pop e etc.
A temática das letras são outro grande destaque aqui, temas básicos do Blues como solidão, paixão, abandono e louvor são revigorados dentro num novo contexto, Gary extravasa perigo, frustração, e especialmente o amor em cada frase, em cada faixa, tornando muito mais urgente e imediata a mensagem a ser passada. Num momento em que a conteúdo das letras dentro da música torna-se cada vez mais vazio, o peso e preocupação com que Gary tem com o conteúdo das letras acaba destacando ainda mais o seu trabalho.
“The Story of Sonny Boy Slim” é um disco para ser ouvido do começo ao fim, não é nenhum álbum conceitual, as músicas funcionam independente uma das outras, mas é enriquecedor ouvir o álbum como um todo. Quero mesmo assim destacar algumas faixas: a hipnótica "The Healing", a catártica "Church", “Star” com sua batida R&B, “Our Love” com ecos de Curtis Mayfield e Otis Redding, “Stay” com sua pegada Hendrixana e a acústica blueseira e vibrante “Shake”.
Como guitarrista Gary Clarck Jr. continua um verdadeiro monstro nas seis cordas, usando e abusando de links, riffs e pentatônicas, tecnicamente falando o lado guitarrista de Gary ficou em segundo plano neste álbum, a guitarra aqui se destaca e funciona em pró da música e não o contrario, mas mesmo assim os guitarristas irão se deliciar com os timbres e as propostas sonoras de Gary para a guitarra dentro de vários estilos das músicas.
Um dos grandes e melhores lançamentos desse fraco ano de 2015, “The Story of Sonny Boy Slim” é uma das obras contemporâneas mais coesas e cheias de propostas para o futuro. Gary já saiu em turnê novamente para divulgar o álbum, no youtube há diversos vídeos dele apresentando faixas do álbum em emissoras de radio, TV e shows e já podemos ver que ao vivo as músicas crescem ainda mais, como toda boa musica feita com carinho, atenção e dedicação, sempre faz.