Por Valdir Junior
Nos últimos anos é cada vez mais comum um arista levar mais do que os até então costumeiros dois anos para lançar um álbum novo. Uma prática que, se ao mesmo tempo coloca em xeque a capacidade criativa do mesmo de se colocar dentro de uma expectativa de mercado, pode muitas vezes (e se o artista tiver consciência disso) servir para que o lado criativo e artístico seja amadurecido dentro da perspectiva do próprio artista.
Muito consciente disso a Nação Zumbi levou sete anos para lançar seu mais novo álbum, o autointitulado “Nação Zumbi (2014)”. Nesse ínterim a banda ainda deu uma pausa de dois anos para que seus integrantes pudessem experimentar e viver outras atividades e caminhos musicais. Pausa essa que foi percebida como necessária quando a banda se reuniu para compor o novo álbum e se viu sem inspiração e engessada numa fórmula de compor e tocar.
Escutando agora o novo álbum, podemos perceber que o tempo e a pausa ajudaram a Nação Zumbi a produzir um de seus álbuns mais concisos e poderosos, repleto de canções onde letra, melodia, arranjo e ritmo se completam numa unidade completa. Produzido por Bruno Ceppas e Kassin que souberam dosar na medida certa a força da guitarra de Lucio Maia com a poderosa máquina rítmica de Dengue (Baixo), Pupillom (Bateria), a percussão de Toca Ogan, e o vocal de Jorge Du Peixe, que neste álbum conseguiu diferenciar muito bem o seu vocal grave de uma música à outra.
Como já mencionado acima, as letras das músicas são um dos destaques do álbum, a intensidade emocional e poética delas junto a forma como Jorge as está cantando, transforma cada silaba, cada frase numa catarse que envolve cada um de nós. Um bom exemplo disso é a balada "Um Sonho”, onde a melodia e a letra de forma circular se completam lindamente. “Defeito Perfeito” e “Novas Aurora” são outras duas faixas em que essa preocupação com as letras se evidenciam.
A música “A Melhor Hora da Praia” tem participação especial de Marisa Monte nos vocais, vale lembrar que nessa pausa da banda, Lucio Maia, Dengue e Pupillo participaram da banda da cantora na turnê “Verdade Uma Ilusão”, essa é uma das grandes faixas do álbum, assim como a excitante e pesada “Foi de Amor”, uma música que com certeza vai ficar na sua cabeça por muito tempo, essa também é uma faixa em que a guitarra de Lucio está repleta de climas e pegadas, absolutamente incrível.
As faixas “Cuidado”, “Pegando Fogo” mostram que apesar do som da Nação Zumbi estar um pouco mais pop e um tanto quanto suave, ela ainda sabe colocar peso e força tanto na mensagem quanto no som. As músicas “Cicatriz” e “Bala Perdida” são a síntese do som proposto pela Nação Zumbi neste novo álbum, e com isso consegue acertar em cheio tanto na proposta musical, como se posicionar ao tipo de música que está circulando pelo ar, mostrando qualidade e inventividade ao mesmo tempo. Agora é correr para ver esse repertório novo sendo tocado ao vivo, que com certeza vai ser um arraso e marcar a carreira da Nação Zumbi.