Resenha do Cd Valsa Da Vida / Tato Fischer

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VALSA DA VIDA
TATO FISCHER
2010

INDEPENDENTE
Por Marcio Salgado

Toda vida tem a sua valsa, talvez um tango, um blues, ou antes um bolero. As composições do CD “Valsa da Vida”, de Iso Fischer, nos revelam essa riqueza de temas musicais, que traduzem os sentimentos de amor e abandono, solidão e acolhimento, além de um punhado de razões para seguir em frente sem arrepender-se. Como dizem os versos da música que dá título a este trabalho: “Mas se tudo é primavera/No raiar da mocidade/Só me traz muita saudade/Relembrar tanta quimera...” No inventário da sua juventude o compositor reacende o desejo das coisas sonhadas: “Eternamente, a vida eu quero assim.”

O CD foi gravado ao vivo, no teatro Paiol, em Curitiba, em 2009, cidade que Iso Fischer escolheu para viver. As canções são interpretadas por seu irmão Tato Fischer, e contam em algumas faixas com as participações de sua filha Ana Clara Fischer e do cantor Maurício Detoni. O compositor acercou-se de um naipe restrito, porém talentoso de músicos e intérpretes.

Os acordes que se ouvem em “Valsa da Vida”, entre solos de piano e violino, nos remetem a estados de pura sensibilidade, e comprovam o inspirado labor do artista e dos seus parceiros musicais.

A primeira faixa do disco “Foi só por amor” se anuncia com contornos dramáticos na interpretação de Tato Fischer, embora este clímax seja parcialmente quebrado pelo contraste estilístico que há entre os dois versos: “Foi só por amor/Ou por um copo de pinga.” Nela o cantor, que também é ator, explora muito bem este jogo poético que percorre toda a canção. “Por um copo de pinga/perdi a cabeça/rasguei teu retrato/outra vez...” Os versos são coloquiais e se encaixam perfeitamente à melodia promovendo o arrebatamento peculiar às peças do gênero.

É certo falar em peças musicais, pois as suas composições guardam influências da música erudita, o que é demonstrado na citação de “Gymnopédie nº 1”, do francês Erik Satie (1866-1925). A música incidental encontra-se no arranjo de “Hoje”, composição de 1981.

Essa influência, contudo, se mistura a outras da nossa música popular, certamente mais presentes. A música brasileira conta com alguns compositores-pianistas, que já deixaram a marca da sua originalidade em diferentes gêneros musicais. Entre outros: Tom Jobim, Marcos Valle e Ivan Lins. O arranjo dos nomes não implica em continuidade, pois eles pertencem a distintas gerações e possuem estéticas diferentes.

E as composições reunidas em “Valsa da Vida” deixam também a sua marca na nossa música. Iso Fischer promove essa clivagem pela abordagem de temas variados e a criação de uma música original, livre dos padrões estabelecidos pelo mercado. Contudo, libertar-se dessas cobranças não significa produzir uma arte inacessível, pois esta, em qualquer campo, é feita para ser apreciada, e a interação com o espectador é, em último grau, a sua razão de ser.

A composição “Boa Viagem” revela a sua força expressiva, com letra e melodia capazes de devolver ao ouvinte a sensibilidade perdida. Ela guarda semelhanças com o tango, e vale observar o destemor que Tato Fischer imprime à sua interpretação. “E se te digo/Coisas alegres/Como quem chora/Em tom mais triste...” Já a canção intitulada “Remorso” , que se inicia com um belo solo de violino, possui um tema denso, mas não se encaminha para o clímax de arrebatamento da anterior. Aliás, as duas datam de épocas distintas: “Remorso” foi composta no já distante ano de 1979, a outra, mais recente, é de 2006.

Presente em algumas faixas, Ana Clara Fischer possui técnica vocal apurada e timbre de voz peculiar, o que se pode confirmar na audição de “Depende só de mim”, que resulta num belo dueto com Tato Fischer.

O compositor musicou o poema “Ismália” de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), mineiro da escola simbolista. “Quando Ismália enlouqueceu,/Pôs-se na torre a sonhar...” Esta composição, segundo ele informa no encarte, deu origem à criação de um espetáculo anterior, em parceria com Etel Frota, abordando outros poemas de Alponsus de Guimaraens.

O alentado CD “Valsa da Vida”, que reúne 19 composições, traz ainda o seu hit mais conhecido “Isso e Aquilo”, uma parceria com Guilherme Rondon, de 1982, já gravada por Nana Caymmi.

Tendo iniciado os seus estudos de piano na adolescência, Iso Fischer venceu, aos 17 anos, um festival de música em Penápolis, sua terra natal, com a canção “Libertação”. Mudou-se para São Paulo, onde estudou medicina na USP e participou ativamente das atividades políticas e culturais do centro acadêmico. Formado em medicina, especializou-se em homeopatia, porém jamais deixou a música, ou antes, esta jamais o abandonou. Para sintetizar essas atividades ele criou o slogan: “Medicina Criativa e Música Curativa”.

Entre os músicos que o acompanham neste trabalho estão: Tato Fischer, voz e piano; Luis Fernando Fischer Dutra, violino; Fábio Cardoso, piano; além dos cantores Ana Clara Fischer e Maurício Detoni.

“Valsa da Vida” é o segundo CD do compositor, que lançou “Câmera Pop” em 1999.

Resenha Publicada em 03/07/2013





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